
Como criei a minha primeira empresa (sem dinheiro!) e como investi o dinheiro que ganhei?
[Este artigo faz parte da minha autobiografia e é a continuação do artigo “como comecei a viver sem chefe?“]
No final de agosto de 2009 tinha acabado de me despedir de um emprego que já não me realizava, tal como referi no artigo “como comecei a viver sem chefe“. Sugiro que leia esse artigo para perceber todos os passos que dei até ao momento em que fui de férias, já sem emprego, e voltei decidido a tornar-me empreendedor.
No início de setembro de 2009, tinha acabado de fazer o registo da minha primeira empresa e sabia que necessitava de começar a trabalhar numa forte presença online. A empresa tinha sede numa pequena cidade do centro de Portugal mas desde o início que eu não pretendia prestar serviços de consultoria ambiental apenas localmente.
Para conseguir angariar clientes e projetos a nível nacional, sabia que necessitava de criar, pelo menos, um site.
NOTA: nessa época, as redes sociais ainda eram pouco utilizadas pelas empresas para se destacarem da concorrência. Vivíamos dominados pela rede social hi5 e pelo MySpace (onde podíamos ouvir músicas das nossas bandas favoritas e encontrar novas bandas).
Falei com um amigo que era fotógrafo de casamentos e que de vez em quando fazia uns sites para empresas. Pelo menos era o que ele me dizia! Perguntei-lhe quanto custaria um site corporativo e ele disse-me que faria algo com animações em Flash por cerca de 500€.
Eu tinha acabado de ler um artigo sobre sites em Flash que referia que nenhuma empresa os deveria ter. O artigo referia que esse tipo de sites, por serem construídos sobre imagens e animações (tipo vídeo), não são indexados pelos motores de busca (como o Google) por estes não conseguirem encontrar textos com palavras chave associadas.
Percebi que com um site em Flash corria o risco de nunca ser encontrado pelos meus futuros clientes.
Nem queria acreditar que um “especialista” me estava a propor uma solução que não iria servir para nada… e que me custaria 500€, dinheiro que nessa altura eu não tinha!
NOTA: 500€ por um site em Flash é um péssimo investimento. Se pretende gastar dinheiro de forma estúpida, é preferível que solicite o meu número de conta bancária e eu prometo que darei bom uso a esse dinheiro! Contudo, se lhe pedirem 500€ por um site bem construído, otimizado para motores de busca e com um design atraente… desconfie, porque é demasiado barato e por isso é possível que estejam a cortar em alguma coisa.
Eu faço isso… sem problema!
Não tinha dinheiro e tinha um amigo que percebia tanto de sites como a minha avó Brízida percebia de barcos à vela… e por isso decidi que iria ser eu a criar o primeiro site da empresa.
Numa fase inicial apenas necessitava de criar uma landing page, que em português corrente significa algo como “página de entrada”.
Com algumas pesquisas no Google consegui perceber que era possível criar um ficheiro HTML no Microsoft Word.
Se colocasse o logótipo da empresa (que nessa altura ainda não existia) e adicionasse umas caixas de texto com o nome da empresa e um email geral, poderia ter o primeiro site disponível em pouco tempo… e a custo zero!
Como a empresa (NOCTULA) tinha o nome de um morcego raro em Portugal (Nyctalus noctula) imaginei que seria boa ideia desenhar um morcego no logótipo. Procurei várias imagens de morcegos no Google, escolhi um bem “bonitinho”, copiei-o para um programa de edição de imagem e comecei a “desenhar” por cima dessa imagem do morcego. Foi um processo muito fácil que me recordou os desenhos que copiava, em criança, para folhas brancas, usando o vidro de uma janela e a luz natural que nela incidia. Também me lembro de o fazer recorrendo a um pequeno candeeiro, por baixo de uma mesa de vidro sobre a qual eu colocava os desenhos com uma folha branca por cima! Sempre fui um péssimo desenhador e por isso sentia-me “o maior” sempre que terminava uma dessas cópias para poder pintar. Sim, porque os meus pais não tinham dinheiro para me comprar livros para pintar!
Voltando ao logótipo…
Como o morcego NOCTULA é arborícola (vive nos buracos das árvores), decidi juntar um pequeno ramo de árvore ao logótipo para que o morcego se pudesse pendurar. Como se não bastasse a tamanha parvoíce que estava a criar, e porque me pareceu que o resultado final tinha originado um morcego a contemplar o horizonte, pensei:
O que estaria o morcego a ver se estivesse a contemplar o horizonte?
Na minha cabeça, o morcego estaria a ver um misto de Natureza (pastagens, florestas, montanhas) com estruturas construídas pelo Homem (uma barragem, aerogeradores de um parque eólico). Não me lembro de pensar se o morcego estaria triste ou feliz com o que via!
Depois de concluir o que agora classifico como “uma grande trapalhada”, coloquei umas caixas de texto com o nome da empresa, com os serviços que prestava e com um contacto de e-mail, guardei o ficheiro em HTML com o nome “index.html”, como tinha lido nos artigos que pesquisei no Google, e coloquei esse ficheiro na base do domínio do site que tinha comprado.
Aqui fica a imagem da página de entrada do site da minha empresa em setembro de 2009… algo que atualmente me deixa bastante envergonhado! 🙂
Uma mochila pendurada num pau!
Uns meses depois de ter criado a empresa, comecei a fazer o Acompanhamento Ambiental da fase de construção de um novo parque eólico, numa serra localizada no norte do país. Depois da primeira reunião de obra, pediram-me que enviasse o logótipo da empresa para juntarem aos logótipos que iriam integrar o painel informativo que seria colocado à entrada da obra.
– Que grande oportunidade para divulgar a minha empresa! – pensei.
Voltei para a “Sala Pórtico do Fontelo“, o local público que eu utilizei como escritório durante os primeiros 2 anos e meio da empresa, e enviei-lhes orgulhosamente o logótipo do morcego NOCTULA.
No dia seguinte, recebi um telefonema do empreiteiro que tinha ficado responsável por criar o painel informativo:
– Bom dia, daqui fala o Eng.º Bruno.
– Bom dia Eng.º, como está? – respondi.
– Tudo bem, obrigado. Olhe… nem sei como é que hei-de lhe dizer isto! Aquela “mochila pendurada num pau” que me enviou por email, é o logótipo da sua empresa? – referiu cuidadosamente o Eng.º Bruno, com algum receio de ferir os meus sentimentos.
– Humm… aquilo é um morcego pendurado no ramo de uma árvore! Sabe… NOCTULA é o nome de um morcego raro em Portugal. – expliquei eu enquanto engolia em seco.
– Pois… mas tem tantos detalhes que não se percebe o que é. Tem que pedir ao seu designer para criar um logótipo com um morcego parecido com o da Bacardi. – gozou o Eng.º Bruno – É que não vamos poder usar o seu logótipo no painel da obra.
– Ahh, não se preocupe com isso Eng.º. Por acaso já andava com ideias de fazer alterações a esse nível. – referi… apesar da “facada” que tinha acabado de levar no coração.
Contratei um designer para criar um logótipo baseado no morcego da Bacardi
No final de 2010, já tinha realizado vários trabalhos de consultoria ambiental e por isso tinha alguns euros na conta bancária. Decidi contratar os serviços de um profissional para criar um novo logótipo.
Contactei uma empresa de webdesign e disse-lhes que pretendia fazer o rebranding (termo que aprendi num livro) da marca NOCTULA. Depois de alguma pesquisa devem ter percebido que a marca NOCTULA ainda nem sequer estava registada e que não havia nada que se aproveitasse… era necessário criar tudo desde o início.
Disse-lhes que queria um morcego (tipo Bacardi) no logótipo e pretendia que houvesse uma mistura de vários animais na natureza, numa espécie de dégradé do dia para a noite, da esquerda para a direita… e que no lado da noite (na parte direita do site) deveriam colocar um morcego a voar.
Eu sabia exatamente o que queria ver no novo site… e também sabia que não deveria ser eu a tentar “desenhar” tudo outra vez, porque iria acabar por criar mais “mochilas penduradas em paus”.
E foi assim que surgiu a segunda versão do site da minha empresa de consultoria ambiental:
O novo site já não me deixava envergonhado… mas estava cheio de pormenores desnecessários e incoerentes:
- Está a ver a raposa do lado esquerdo? É estrábica! 🙂
- Atrás da raposa, também do lado esquerdo do site, existe um coelho ao lado de uma flor (um malmequer). Repare como são do mesmo tamanho!
- Repare que a borboleta também parece do mesmo tamanho que o coelho.
- Os malmequeres são muito grandes ou o tronco onde está a raposa é muito pequeno? Se o tronco for muito pequeno, a raposa deve ser anã!
- Do lado direito do site, lá está a noite… e o morcego a voar! Repare no tamanho dos malmequeres que se encontram por baixo desse morcego… parecem do tamanho de nenúfares!
Mas pronto… agora tinha um logótipo espetacular! Era o que eu pensava… até os clientes me começarem a dizer que parecia que o morcego tinha andado a saltar a fogueira e tinha queimado as asas (por estarem tão recortadas). Quando falei nisso ao designer que contratei, ele respondeu:
– Os teus clientes não percebem que esse morcego é o Rei dos morcegos!!! Já é tão velho que tem as asas todas fo****s!?
Sem comentários, certo?
Produzir conteúdo para o site regularmente
Agora já não tinha um site estático, com uma única página. Tinha um site com uma secção de notícias que necessitava de ser “alimentado” regularmente com conteúdo relevante que pudesse cativar o meu público alvo: os meus potenciais clientes.
Poderia ter optado por escrever textos sobre ambiente, sobre sustentabilidade ou sobre a importância da conservação da natureza e dos valores naturais, mas já nessa altura considerava que existia demasiado conteúdo escrito em linguagem técnica, que não cativava o público em geral. Por outro lado, existia igualmente muito conteúdo relacionado com a área do ambiente que era escrito por ativistas ambientalistas, e eu não me revia em grande parte daquilo que eles defendiam, por serem, na maioria das vezes, tão extremistas.
Se queremos mudar mentalidades não podemos dizer às pessoas que “o peixinho está em stress“, ou que a sustentabilidade é algo com que nos devemos preocupar… WTF!!! Ninguém percebe o que isso significa!
A preocupação com o ambiente e com os valores naturais é algo que só será uma prioridade na mente das pessoas se estas sentirem que lhes estão a tirar alguma coisa… e quanto mais lhes dermos e mais as ensinarmos, mais informadas e mais participativas elas se tornam. Acredito que num mundo em que as pessoas participam mais, coisas boas começam a acontecer.
Quando iniciei a produção de conteúdo para a secção de notícias do novo site, lembro-me de refletir sobre todas estas questões. Apesar de querer produzir conteúdo que pudesse cativar potenciais clientes para a empresa, queria que a NOCTULA fosse vista como uma empresa que ensinava alguma coisa às pessoas, não queria escrever textos científicos apenas para os Doutorados lerem e aplaudirem… não queria ser um daqueles músicos que compõe músicas tão complexas que apenas os músicos conseguem perceber, mas são inaudíveis para uma pessoa normal. Percebe a analogia?
Comecei por escrever artigos nas redes sociais, com a expectativa de atrair atenção para o site da empresa mas percebi rapidamente que estava a cometer um dos grandes erros do marketing digital: estava a criar uma base de seguidores e a gerar atividade em plataformas (Facebook, LinkedIn) que não me pertenciam e cujos destinos eu nunca poderia controlar. Basicamente, estava a construir um castelo em cima de um terreno alugado… quando o dono do terreno deixasse de mo alugar, eu teria que destruir o castelo e começar tudo outra vez noutro lugar qualquer.
Pode parecer que esta analogia não faz sentido mas, a história das redes sociais está repleta deste tipo de situações. Quantos influenciadores digitais construíram a sua base de seguidores apenas em redes sociais como o hi5, o Vine ou o MySpace e voltaram praticamente ao anonimato quando essas plataformas deixaram de ser utilizadas diariamente pelos seus seguidores? E continua a haver “artistas” a cometer o mesmo erro… Têm 100 000 seguidores numa rede social e arriscam-se a perdê-los todos de um dia para o outro porque continuam a não investir na construção da sua própria plataforma (um site ou um blog).
As redes sociais servem apenas para encaminhar os leitores para o site
Na secção de notícias (do site da minha empresa) comecei a partilhar pequenas perguntas, a complementá-las com imagens cativantes e com um link que encaminhava os leitores para a notícia completa dentro do site. Dessa forma, estava a utilizar as redes sociais como veículo para levar as pessoas a visitar o meu site, onde poderiam ler o artigo completo e encontrar as respostas que procuravam. Assim, no dia em que os utilizadores deixassem de utilizar uma das redes sociais, eu poderia passar a partilhar essas informações noutra rede social, uma vez que mantinha sempre todo o conteúdo no site da empresa.
Aqui ficam algumas das perguntas estranhas que partilhei inicialmente nas redes sociais:
- Porque é que o urso polar não come pinguins?
- Será que os peixes têm sede?
- Porque é que a chuva tem cheiro?
Alguns clientes disseram-me que eu publicava artigos sobre temas estranhos, no site da empresa de consultoria, que nada tinham a ver com legislação ambiental, com licenciamento de parque eólicos, etc… mas eu precisava de experimentar escrever sobre estes temas genéricos para perceber se conseguia cativar a atenção do público em geral.
Inventar estes “títulos estranhos” também não foi uma tarefa fácil. De forma a selecionar o título mais chamativo para cada um dos assuntos, decidi obrigar-me a inventar 15 títulos alternativos. Não sei se tem noção mas esse exercício é muito difícil de fazer! Contudo, obrigou-me a levar a imaginação muito mais além. A título de exemplo, aqui ficam os 15 títulos que criei para escrever sobre os ursos polares, antes de decidir selecionar este título que fez tanto sucesso no site e nas redes sociais: “Porque é que o urso polar não come pinguins?“:
- Ursos polares, pelo oco e pele preta
- Urso branco que afinal é preto.
- Sabia que o urso polar é preto?
- Um urso branco que tem a pele preta?
- Um urso preto que afinal é branco
- O urso polar é branco ou não é?
- Porque é que o urso polar é branco? Não é!
- Como é que o urso polar não tem frio?
- Como é que o urso polar não congela?
- Porque é que o urso polar não come pinguins?
- Como é que o urso polar não escorrega no gelo?
- Não come pinguins porque não lhes chegam!
- Gigantes do Polo Norte.
- O urso polar e o pinguim podiam ser grandes amigos.
- Porque é que devia existir um trampolim no Polo Norte?
Agora a sério… já pensou porque é que o urso polar não come pinguins? Os pinguins até devem ser saborosos! 🙂
Toda a gente aprendeu a resposta a esta questão na disciplina de “Ciências Naturais” mas a maioria das pessoas já não se recorda: o urso polar não come pinguins porque o urso polar vive no Polo Norte e os pinguins vivem no Polo Sul! 🙂
Graças às excelentes reações que fui obtendo por parte dos leitores, percebi que assim era fácil falar sobre ecologia e vida selvagem e que aos poucos estava a conseguir despertar a atenção para o que eu queria: comunicar temas difíceis ao público em geral e conseguir fazê-los ansiar por mais.
Sim… eu sei que deverá estar a pensar: “Mas dessa forma não estava a comunicar diretamente para os potenciais clientes da empresa!“
Tem toda a razão! Mas dessa forma estava a aprender a usar as redes sociais para despertar a curiosidade dos leitores e para os fazer visitar o site da empresa, onde poderiam encontrar as respostas às perguntas estranhas que eu partilhava… e ainda podiam ficar a saber que existia uma empresa denominada NOCTULA que fazia vários tipos de estudos e projetos na área ambiental. Podiam ver, inclusivamente, uma secção de vídeos que tínhamos registado com câmaras de infravermelho, com sensores de movimento, e aperceber-se que a beleza da vida selvagem está mesmo ao lado da nossa casa e não apenas nas séries do National Geographic que viam na televisão ao domingo à hora do almoço.
Acredito que saber um pouco mais leva as pessoas a ver o mundo de outra forma. Existem pequenas coisas que nos rodeiam que só as vemos quando nos ensinam a vê-las… e eu comecei a sentir que estava a conseguir despertar, nas pessoas que seguiam as minhas publicações, essa paixão pelas pequenas coisas.
Mesmo depois de muita gente se “queixar” que aquele tipo de conteúdo parecia descabido, eu continuei a acreditar que fazia sentido partilhá-lo e que iria “colher os frutos” a médio/longo prazo. Mesmo que não conseguisse transformar essa partilha de conhecimento em oportunidades de negócio, sempre senti que pelo menos estava a cumprir o meu propósito na Terra:
… partilhar conhecimento e alegria!
Pensei em continuar a fazer estas experiências de comunicação mas numa plataforma separada do site da empresa de consultoria ambiental… e foi assim que, em dezembro de 2013 decidi lançar um novo site chamado NOCTULA Channel com o intuito de poder experimentar escrever sobre o que eu achasse que deveria ser partilhado. Essa passou a ser inclusivamente a filosofia que regeu o portal: … o que interessa deve ser partilhado!
No portal NOCTULA Channel, a minha equipa (sim, porque entretanto a empresa tinha crescido e eu já não trabalhava sozinho) começou a partilhar um artigo novo por dia durante mais de 2 anos. Aqui ficam alguns dos artigos que tiveram mais sucesso:
- Os melhores modelos de currículo em formato editável
- Receita caseira para acabar com os caracóis
- 10 partidas brilhantes para o dia das mentiras
- 14 maneiras simples e baratas de renovar o jardim
- Como é que o lobo muda o curso dos rios
- As Ecopistas de Portugal que tens que visitar
- Como construir uma casa com paletes de madeira
A produção de conteúdo para este portal foi uma aventura louca na qual decidi investir todo o lucro que a empresa de consultoria gerava anualmente. Como único sócio da empresa, poderia ter optado por ficar com esse dinheiro para mim… poderia ter comprado um Porsche… mas considero que o dinheiro só serve para nos dar a liberdade de experimentar fazer novas coisas, não serve para nos fazer parecer ricos!
Apesar de nessa altura não ter gerado dinheiro (diretamente) com o funcionamento do portal, porque todo o conteúdo era partilhado gratuitamente, esta aventura ensinou-me grande parte do que eu precisava de saber para comunicar eficazmente nas redes sociais e atrair tráfego para o site.
Cerca de um ano após o lançamento do portal NOCTULA Channel, realizei o primeiro workshop “Como conseguir emprego em 30 dias“, mais uma daquelas parvoíces que parecia sem sentido. Se ainda não sabe como é que decidi começar a realizar este tipo de workshops, sugiro que leia este artigo.
Divulguei o sucesso desse primeiro evento no Facebook e no portal NOCTULA Channel e comecei a receber emails de várias instituições (Universidades, associações, entidades privadas) ao longo do país a perguntar quanto é que eu cobraria para replicar o evento no âmbito de uma atividade que eles desenvolvessem.
Já estava a começar a ser remunerado devido ao que partilhava no portal NOCTULA Channel. Foi nessa altura que percebi como é que os bloggers monetizam os seus blogs sem ter que os “inundar” com banners publicitários.
Sempre que realizava um novo evento, divulgava-o no Facebook e no portal NOCTULA Channel… e cada vez recebia mais pedidos para replicar o evento.
Chegámos a ter 2500 visitantes por dia e mantivemos esse nível de atividade mesmo depois de deixarmos de produzir novo conteúdo diariamente… sim, a determinada altura decidi que o portal NOCTULA Channel já não deveria continuar a receber investimento, nem em tempo nem em dinheiro, porque já conseguia atrair, organicamente, novos visitantes a partir de pesquisas que estes efetuavam nos motores de busca. Passámos a partilhar novos artigos sem periodicidade definida e optámos por republicar e voltar a partilhar artigos que já existiam no portal há vários meses. Pudemos fazer isso porque desde o início que tivemos o cuidado de escrever os textos com um carácter intemporal… assim, dificilmente “passarão de prazo”!
Decidi começar a escrever sobre outras coisas
Aprendi tanto com a produção de conteúdo para o portal NOCTULA Channel e acabei por perceber o poder que um blog tem para alavancar os negócios e a nossa marca pessoal!
No final de 2015, estava a terminar o longo processo que foi a escrita do meu primeiro livro (Como conseguir emprego em 30 dias) e pensei:
vou lançar o livro no início de 2016 e vou usar tudo o que aprendi (em termos de comunicação e redes sociais) para criar uma plataforma com dicas de apoio a quem está à procura de emprego… essa plataforma servirá de complemento aos meus workshops e aos 30 capítulos do livro
Nessa altura ainda não tinha noção que estava prestes a tomar uma decisão que iria mudar toda a minha vida… não tinha noção que era nesse novo projeto que iria encontrar o meu verdadeiro propósito a nível pessoal e profissional.
Obviamente que nunca mais me voltei a “armar em designer“. Sempre que criava uma nova plataforma, contratava um designer para poder materializar as ideias que eu tinha em mente.
Coitados dos designers, têm tido tanta paciência para aturar os meus delírios… eu tenho as ideias e eles têm que as materializar. Acredite, se eu fosse designer despedia clientes chatos como eu! Tenho noção que por vezes sou insuportável… 🙂
Em março de 2016 nasceu mais uma plataforma: o site www.emprego30dias.com
Na secção “dicas” desse novo site (www.emprego30dias.com/dicas) apliquei tudo o que aprendi durante o processo de desenvolvimento do meu laboratório experimental de comunicação (o NOCTULA Channel)… gosto de lhe chamar assim porque foi, de facto, um portal onde pude experimentar escrever tudo o que quisesse e que achasse que merecia ser partilhado.
Já pensei que não deveria ter abandonado a produção de conteúdo no portal NOCTULA Channel, mas tive necessidade de definir prioridades na minha vida profissional e focar-me muito mais na produção de conteúdo relacionado com o meu livro e com todos os produtos digitais e vídeos que entretanto comecei a produzir.
Desculpa-me, NOCTULA Channel…
– … foste o projeto que me ensinou e que me deixou experimentar muita coisa nova, mas agora quero evoluir e seguir outros caminhos.
É possível que o portal NOCTULA Channel, por estar em regime de abandono, um dia acabe por “morrer”… mas é mesmo assim, um dia acabaremos todos por morrer!
Resta-nos fazer algo, todos os dias, que deixe uma marca positiva nas pessoas!
Acredito que o NOCTULA Channel já cumpriu o seu propósito. Podem desligá-lo das máquinas, por favor! 🙂
Então… e o que aconteceu à empresa de consultoria ambiental?
Ah, pois… a empresa de consultoria ambiental… a do morcego NOCTULA baseado no logótipo da Bacardi!
No início de 2014, estava a almoçar com um cliente e fiquei chocado quando ele me disse:
– Já adjudiquei o Estudo de Impacte Ambiental do novo parque eólico à empresa XPTO. Daqui a um ano vou necessitar que vocês comecem a estudar as populações de morcegos que poderão ser afetadas pelo projeto.
– … e porque é que não nos pediu uma proposta de orçamento para esse Estudo de Impacte Ambiental? – perguntei, com um tom brincalhão e descontraído, apesar de estar em choque por ter perdido aquela oportunidade.
– Não sabia que a vossa equipa elaborava esse tipo de estudos. Pensei que só estudavam morcegos! – justificou o cliente.
Puffff… foi assim que decidi que o morcego deveria desaparecer do logótipo da NOCTULA. Aqui fica uma imagem com as alterações que o logótipo sofreu até hoje:
Já me perguntaram várias vezes o que simboliza aquela forma estranha que existe atualmente no logótipo da NOCTULA.
Eu até podia inventar uma história sobre a metamorfose que essa forma sofreu depois de ter sido abandonada pelo morcego. Na verdade, essa forma não significa nada… mas pelo menos assim nunca mais vão pensar que só estudamos morcegos!
Com este novo logótipo, para além do nome da empresa, há algo que ajuda os clientes, e potenciais clientes, a perceber o que fazemos: somos “Consultores em Ambiente” tal como pode ler-se por baixo do nome da empresa.
Com o novo logótipo, decidi investir num novo site, com um design muito mais atrativo, com características responsivas para funcionar perfeitamente em telemóveis e tablets, e acima de tudo com uma página de entrada em blocos dinâmicos que vão mudando sempre que divulgamos um novo projeto ou uma nova notícia no “blog” (nome que dei ao menu “Notícias”). Aqui fica uma imagem da página de entrada atual do site www.noctula.pt.
Está bem melhor do que aquele site manhoso que eu criei em 2009, certo? 🙂
Melhor ou pior, isso agora já não interessa. O que interessa é que em 2009, quando criei a primeira empresa, não sabia fazer, nem tinha dinheiro mas não inventei desculpas! Apesar de ter criado um site de m****, agi… não fiquei parado à espera de ter as condições ideais para avançar.
Sempre que fui ganhando algum dinheiro, decidi investi-lo para melhorar tudo o que estava a ficar obsoleto e para criar novas plataformas. Esses investimentos geraram mais dinheiro e permitiram-me continuar a crescer tanto a nível pessoal como a nível profissional.
O objetivo deste artigo não passa por me envergonhar publicamente por causa das más decisões que tomei… pretendo que perceba que ficar parado e arranjar desculpas, apesar de ser mais fácil, não costuma ajudar-nos a evoluir.
Fiz muitas asneiras e criei coisas feias antes de saber apresentá-las decentemente… e então? O resultado (uns anos mais tarde) foi surpreendente! 🙂
A partir de hoje deixe de se queixar… faça, aprenda e corrija. Cada vez que voltar a fazer, estará um passo mais à frente. Passados alguns anos, olhará para trás (tal como eu estou a fazer neste momento) e sentirá orgulho no que alcançou… e terá vontade de rir e de gozar com todas as más decisões que o conduziram ao sucesso.
É possível criar negócios sem dinheiro. Para mim, não foi fácil… e acredito que não será fácil para ninguém. Porém, se começar hoje, acredito que daqui a 5 ou 10 anos poderá estar a escrever um artigo como este, para partilhar a sua história com todos os que ainda não decidiram começar.