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Agora não é o momento ideal… mas amanhã pode ser tarde demais!

Naquela manhã, demorei mais tempo a tomar o pequeno almoço porque decidi ouvir dois episódios seguidos do podcast do James Altucher.

Estava a pensar ir nadar durante uma hora, mas quando cheguei ao ginásio, vi tanta gente na piscina que fiquei sem vontade de me meter no meio da confusão.

Queria continuar a relaxar e por isso, nem fui à sala de musculação, desci aos balneários, tirei a roupa, calcei os chinelos e fui diretamente para a sauna.

Estive sozinho durante a primeira sessão de 20 minutos e conversei com o meu amigo de 80 anos durante a segunda sessão. Fui passar o corpo por água fria (quase gelada) e voltei a entrar na sauna para uma última sessão de 20 minutos.

Passado algum tempo, entraram dois jovens a falar francês.

Quando saí da sauna, o mais velho, que deveria ter a minha idade, disse-me, num português misturado com francês:

– Isto é muito bom para a saúde, não é?

– Nem que seja para a saúde mental… eu passo o resto do dia muito mais focado desde que venho à sauna de manhã! – respondi.

Continuámos a conversar sobre pequenas banalidades e ele acabou por referir:

– Eu deveria fazer isto pelo menos duas ou três vezes por semana, mas não consigo.

Sinceramente pensei que iria ouvir uma série de desculpas esfarrapadas, mas durante os 10 minutos seguintes tivemos uma conversa tão genuína que acabou por me marcar profundamente, e por me levar a escrever este texto.

Contou-me que tinha nascido em Viseu, mas há vários anos que vivia e trabalhava na Suíça, tal como muitos portugueses.

Aos 12 anos, ainda em Portugal, já ajudava a mãe a fazer limpezas num escritório. Quando terminou a escolaridade obrigatória, decidiu que queria começar a ganhar algum dinheiro para se tornar independente.

Fez uma pequena formação de eletricista, trabalhou como calceteiro e mais tarde, decidiu emigrar para a Suíça para trabalhar nas obras, algo que continuou a fazer até aos dias de hoje.

Este relato não é muito diferente da história de vida de alguns dos meus familiares mais próximos. Contudo, a forma genuína como ele falou, o cansaço e a tristeza no seu rosto acabaram por me comover.

Não fiquei com pena dele, nem tive vontade de chorar, não é nada disso. Comoveram-me as suas palavras por estarem tão correlacionadas com a forma como as expressava.

Não precisei de lhe perguntar porque é que não conseguia arranjar tempo para usufruir semanalmente de alguns momentos na piscina, no ginásio ou na sauna, porque ele rapidamente partilhou comigo como era o seu dia-a-dia:

– Saio de casa todos os dias por volta das cinco e meia da manhã e regresso quase às oito da noite. Trabalho na construção civil (nas obras, como se costuma dizer) e quando chego a casa já não tenho vontade de fazer mais nada. Preciso de tomar um banho, porque estou sempre todo sujo e depois disso o meu corpo só pede descanso! No dia seguinte recomeço tudo outra vez. – referiu.

– Bem… que brutalidade… não podes fazer isso durante toda a vida! – disse eu.

– Eu até ganho bom dinheiro… – referiu – … mas fui burro, não deveria ter parado de aprender mais coisas. Atualmente, quem quer ter um trabalho mais limpo, tem de estudar!

– Sim, concordo! Eu gosto muito de ler livros sobre “como fazer”. Permitem-me aprender como é que as pessoas bem-sucedidas fizeram… aquelas pessoas que têm uma vida como a que eu ambiciono ter. – acrescentei.

Percebi que ele sentia um arrependimento muito grande por estar há tantos anos a molestar o corpo com trabalhos tão sujos e pesados.

Tive vontade de ficar a conversar com ele durante mais umas horas para o ajudar a perceber que nunca é tarde para “dar um murro na mesa” e mudar tudo.

Contudo, optei por não o fazer.

Porquê?

Porque contrariamente ao que eu pensava (e fazia) quando tinha vinte e poucos anos, atualmente percebo que quando conhecemos alguém que possivelmente não voltaremos a encontrar, não deveremos impor as nossas ideias nem lhe contar tudo o que conseguimos alcançar na vida à custa do estudo e da disciplina.

No passado, na maioria das vezes em que decidi fazê-lo, fui considerado arrogante. E quando somos (ou parecemos) arrogantes, as nossas palavras surtem um efeito contrário ao que desejamos.

Limitei-me a contar-lhe, muito resumidamente, que há uns anos desmaiei de cansaço, três vezes no mesmo mês e que depois desses eventos, que me marcaram profundamente, decidi começar a reservar tempo, na minha agenda, para tratar do meu bem-estar físico e mental. Contei-lhe que depois de cumprir um desafio de 100 dias consecutivos de corrida, comecei a frequentar o ginásio duas manhãs por semana, com o objetivo de perder peso e também para me obrigar a não trabalhar nessas duas manhãs.

Depois passei a fazer isso durante três manhãs por semana e que, a partir de julho de 2019, passei a reservar todas as manhãs para ler, ouvir podcasts, praticar desporto, aprender a nadar e relaxar na sauna.

Disse-lhe que me tinha sentido inspirado para dar esses passos na minha vida depois de ler muitos livros e de assistir a algumas palestras TEDx no Youtube. Ler e ouvir as histórias sobre como é que outras pessoas transformaram a sua vida, deram-me o empurrão que eu necessitava para começar a fazer tudo de forma diferente.

Ele nunca tinha ouvido falar das palestras TEDx. Disse-me que ultimamente andava a ver alguns documentários na Netflix e que, de vez em quando, gostava de ouvir debates sobre temas da atualidade, porque o ajudavam a construir a sua própria opinião sobre determinados assuntos.

Percebi que havia nele alguma vontade de mudança, percebi que ele não queria continuar a fazer tudo da mesma forma, durante o resto da sua vida, e por isso voltei a insistir:

– Procura TEDx no Youtube e encontra algumas palestras que te inspirem, vais ver que determinadas coisas vão começar a mudar em ti.

Desejei-lhe um bom dia e fui tomar banho.

Durante o almoço contei à minha belíssima esposa os detalhes desta conversa, que apesar de ter sido tão simples, me fez refletir sobre grande parte das decisões difíceis que também tive de tomar para conseguir mudar completamente o rumo da minha vida.

Ela disse:

– Desde que deixaste de trabalhar tantas horas por dia, começaste a ser uma pessoa melhor. Há uns anos, não terias disponibilidade mental para manter uma conversa dessas com um estranho… nem comigo, quanto mais com um estranho!

– Pode parecer ridículo, mas sinto que quanto mais tempo dedico a mim próprio, mais tempo tenho para dedicar aos outros. Isto é contraintuitivo, não achas? – respondi.

Posso parecer um pouco egocêntrico quando assumo que atualmente me centro em mim próprio primeiro, mas era isso que eu deveria ter feito desde sempre!

Desde que decidi passar a trabalhar menos horas por dia, para me poder centrar no meu crescimento pessoal e espiritual (sem querer que esta palavra tenha qualquer conotação religiosa), tudo mudou em mim e na forma como interajo com as outras pessoas.

Quanto mais converso com as pessoas, da minha idade (e mais velhas do que eu), mais me apercebo que poucas estão verdadeiramente felizes com as decisões que tomaram na vida… e a maioria acha que agora já é tarde demais para mandar tudo à m**** e começar do zero.

Fico comovido quando converso com pessoas que estão a passar por este conflito interior. Não gostam do que fazem, mas continuam a fazê-lo porque acham que não há outra forma de viver ou porque acham que talvez não estejam destinados a alcançar algo muito melhor na vida.

Quando incentivo essas pessoas a implementar mudanças na sua vida, tal como eu fiz, algumas já me chegaram a responder:

– Agora não é a altura ideal, tenho muito trabalho pela frente!

Pois… amanhã será um momento ainda pior… e talvez possa ser tarde demais.

Este artigo é um excerto do livroa Ave Rara II… do caos e das dívidas a um estilo de vida livre!” e integra a série de episódiosTrabalhar 4 horas/dia“.

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