Ferrari-analise-detalhada-capa-VIMEO

Ferrari

Última atualização: novembro de 2025

Vídeo resumo para os preguiçosos

Não tens paciência para ler a análise completa? Então este vídeo é para ti.

Em apenas 7 minutos, resumo-te tudo o que precisas de saber sobre a Ferrari (símbolo RACE):

  • a história incrível da marca que nasceu nas pistas;

  • o seu moat económico (tão sólido como o som de um V12);

  • os catalisadores de crescimento que continuam a acelerar os resultados;

  • e os principais riscos que podem travar o cavalo empinado nos próximos anos.

Clica no play, ajusta o volume e deixa-te levar por esta viagem pelo negócio mais luxuoso do mundo automóvel.

Porque, sejamos honestos, até os preguiçosos merecem entender o que faz da Ferrari uma máquina de rentabilidade e desejo.

Linha cronológica – criação e evolução da Ferrari

1. Origens (1908-1929)
  • Enzo Ferrari nasceu em 1898 em Modena, Itália, e a sua paixão pelo automobilismo começou cedo.

  • Em 1920 ingressou na Alfa Romeo como piloto/profissional de automóveis, adquirindo experiência no mundo das corridas.

  • Em 1929 fundou a Scuderia Ferrari em Modena — originalmente como equipa de corridas para “gentleman drivers” e para participar em provas com automóveis da Alfa Romeo.

2. Transição e criação da empresa automobilística (1939-1947)
  • Em 1939, devido a divergências com a Alfa Romeo, Enzo deixou a empresa e fundou a Auto Avio Costruzioni, que era uma empresa de construção de componentes e que pouco mais tarde iniciaria o seu caminho próprio.

  • A Segunda Guerra Mundial atrasou os planos de produção automóvel. Em 1943 a fábrica mudou-se para Maranello (no distrito de Modena).

  • Em 1947 marca-se o nascimento formal da Ferrari como fabricante de automóveis com o lançamento do modelo Ferrari 125 S – o primeiro carro de estrada da marca, com motor V12 de 1,5 litros.

3. Crescimento e afirmação internacional (1948-1960s)
  • Nos anos 50 e 60, a Ferrari ganhou reputação nos circuitos internacionais – nas corridas de resistência (ex.: 24 Hours of Le Mans) e em Fórmula 1 — o que reforçou a sua imagem de desempenho e exclusividade.

  • Nessa fase também lançou modelos icónicos que hoje são colecionáveis, e começou a construir a sua marca como sinónimo de carros de luxo e de alto desempenho.

  • Em 1960, a empresa tornou-se pública. 

4. Colaborações e estrutura de propriedade (1960s-2000s)
  • A marca considerou uma fusão/venda à Ford Motor Company nos anos 60, mas acabou por não concretizar-se.

  • Em 1969, a Fiat S.p.A. iniciou a sua entrada no capital da Ferrari.

  • A Ferrari manteve-se no seio de grupos industriais maiores mas sempre com forte identidade própria.

5. Era moderna, marca global e especialização (2000s-presente)
  • A Ferrari ampliou a sua gama de produtos – de supercarros de estrada para experiências de marca, licenciamento, lifestyle, e participação ativa em corridas automóveis, reforçando a exclusividade.

  • A produção continua controlada (volumes baixos comparados com fabricantes mass-market) para preservar a raridade e o valor da marca.

  • Mais recentemente, a Ferrari reorganizou-se e avançou para a eletrificação e híbridos, adaptando-se às novas exigências tecnológicas e ambientais (embora mantendo o espírito de desempenho).

6. Importância para a tese de investimento

A história mostra-nos:

  • Uma marca construída sobre corridas, desempenho e prestígio — o que gera “moat” (barreira competitiva) pela imagem e experiência de condução que poucos conseguem igualar.

  • Um percurso de mais de 75 anos de produção automóvel (e mais de 90 anos desde a fundação da Scuderia), o que transmite credibilidade e know-how.

  • Uma transição bem-sucedida de “só carros de corrida” para “marca de luxo global” — o que permite diversificação e resiliência.

  • A constante preocupação com a exclusividade e luxo (menos volumes, mais preço por unidade) — o que está alinhado com a tese de investimento que valoriza empresa com forte “pricing power”.

História da criação e evolução da empresa

A história da Ferrari começa com o seu fundador, Enzo Ferrari, nascido em 1898 em Modena, Itália. Movido por uma paixão intensa pelo automobilismo, Enzo iniciou a sua carreira como piloto de corridas na Alfa Romeo, onde rapidamente se destacou. Em 1929, fundou a Scuderia Ferrari, uma equipa de corridas criada para apoiar pilotos independentes nas competições automóveis. Durante essa fase, a Scuderia operava como uma extensão da Alfa Romeo, gerindo e preparando carros de competição para clientes privados.

Em 1939, após desentendimentos com a Alfa Romeo, Enzo decidiu seguir o seu próprio caminho e fundou a Auto Avio Costruzioni, uma empresa dedicada inicialmente à produção de componentes mecânicos. A Segunda Guerra Mundial interrompeu os seus planos de fabricar automóveis, mas foi nesse período que construiu as bases do futuro império. Em 1943, mudou as suas instalações para Maranello, onde ainda hoje se encontra a sede da Ferrari.

O primeiro carro com o nome Ferrari, o modelo 125 S, surgiu em 1947. Equipado com um motor V12 desenhado por Gioacchino Colombo, marcou o início oficial da Ferrari como fabricante de automóveis de alta performance. As primeiras vitórias em corridas cimentaram a reputação da marca e abriram caminho para o domínio da Ferrari nas competições internacionais, especialmente na Fórmula 1, onde viria a tornar-se uma das equipas mais emblemáticas da história.

Nas décadas seguintes, a Ferrari consolidou a sua imagem como símbolo de luxo, velocidade e excelência italiana. O controlo rigoroso da produção, a exclusividade dos modelos e a combinação entre engenharia de precisão e design artístico transformaram-na numa marca de culto. Até hoje, a Ferrari mantém-se fiel à visão de Enzo Ferrari: criar máquinas que unam emoção, potência e beleza, continuando a ser uma das marcas mais admiradas e valiosas do mundo.

Linha cronológica – criação e evolução da Ferrari

1. Origens (1908-1929)
  • Enzo Ferrari nasceu em 1898 em Modena, Itália, e a sua paixão pelo automobilismo começou cedo.

  • Em 1920 ingressou na Alfa Romeo como piloto/profissional de automóveis, adquirindo experiência no mundo das corridas.

  • Em 1929 fundou a Scuderia Ferrari em Modena – originalmente como equipa de corridas para “gentleman drivers” e para participar em provas com automóveis da Alfa Romeo.

2. Transição e criação da empresa automobilística (1939-1947)
  • Em 1939, devido a divergências com a Alfa Romeo, Enzo deixou a empresa e fundou a Auto Avio Costruzioni, que era uma empresa de construção de componentes e que pouco mais tarde iniciaria o seu caminho próprio.

  • A Segunda Guerra Mundial atrasou os planos de produção automóvel. Em 1943 a fábrica mudou-se para Maranello (no distrito de Modena).

  • Em 1947 marca-se o nascimento formal da Ferrari como fabricante de automóveis com o lançamento do modelo Ferrari 125 S – o primeiro carro de estrada da marca, com motor V12 de 1,5 litros.

3. Crescimento e afirmação internacional (1948-1960s)
  • Nos anos 50 e 60, a Ferrari ganhou reputação nos circuitos internacionais – nas corridas de resistência (ex.: 24 Hours of Le Mans) e em Fórmula 1 – o que reforçou a sua imagem de desempenho e exclusividade.

  • Nessa fase também lançou modelos icónicos que hoje são colecionáveis, e começou a construir a sua marca como sinónimo de carros de luxo e de alto desempenho.

  • Em 1960, a empresa tornou-se pública. 

4. Colaborações e estrutura de propriedade (1960s-2000s)
  • A marca considerou uma fusão/venda à Ford Motor Company nos anos 60, mas acabou por não concretizar-se.

  • Em 1969, a Fiat S.p.A. iniciou a sua entrada no capital da Ferrari.

  • A Ferrari manteve-se no seio de grupos industriais maiores mas sempre com forte identidade própria.

Aproveita e assiste a este documentário na (Prime video):
5. Era moderna, marca global e especialização (2000s-presente)
  • A Ferrari ampliou a sua gama de produtos – de supercarros de estrada para experiências de marca, licenciamento, lifestyle, e participação ativa em corridas automóveis, reforçando a exclusividade.

  • A produção continua controlada (volumes baixos comparados com fabricantes mass-market) para preservar a raridade e o valor da marca.

  • Mais recentemente, a Ferrari reorganizou-se e avançou para a eletrificação e híbridos, adaptando-se às novas exigências tecnológicas e ambientais (embora mantendo o espírito de desempenho).

6. Importância para a tese de investimento

A história mostra-nos:

  • Uma marca construída sobre corridas, desempenho e prestígio — o que gera “moat” (barreira competitiva) pela imagem e experiência de condução que poucos conseguem igualar.

  • Um percurso de mais de 75 anos de produção automóvel (e mais de 90 anos desde a fundação da Scuderia), o que transmite credibilidade e know-how.

  • Uma transição bem-sucedida de “só carros de corrida” para “marca de luxo global” — o que permite diversificação e resiliência.

  • A constante preocupação com a exclusividade e luxo (menos volumes, mais preço por unidade) — o que está alinhado com a tese de investimento que valoriza empresa com forte “pricing power”.

1. Tese de investimento

A tese de investimento centra-se em alguns pontos-chave:

  • Marca forte e modelo de negócio único: A Ferrari não é um fabricante automóvel típico: combina escassez (volumes controlados), preço elevado por unidade, e apelo emocional/aspiracional. Isso permite margens substancialmente acima dos automóveis de massa.

  • Crescimento e valorização do luxo
    Em mercados de luxo, as marcas que dominam a perceção de prestígio têm potencial para capturar crescimento e melhorar “pricing power”. A Ferrari beneficia desta dinâmica.

  • Alavancas de rentabilidade e cash-flow
    De acordo com análises, a Ferrari apresenta rendimento livre de cash flow robusto, margens elevadas e retorno sobre capital investido que se assemelha mais a negócios de luxo ou tecnologia do que ao sector automóvel tradicional.

  • Barreiras competitivas e exclusividade
    A combinação de herança histórica, imagem de marca, ligação ao desporto (corridas), e controle deliberado de produção cria barreiras à entrada e protege a marca de erosão de preço.

  • Diversificação de receitas
    Embora a maior parte provenha da venda de automóveis, a Ferrari tem clarificado que também vai reforçar receitas de estilo de vida, licenciamento, experiências associadas à marca, o que permite expansão para além de cada veículo vendido.

2. Visão geral do negócio

De seguida apresentamos uma visão geral dos aspetos fundamentais do negócio da Ferrari:
– DNA e herança da marca

A Ferrari foi fundada em 1947 por Enzo Ferrari. O seu espírito fundamental é moldado pelo automobilismo, sendo o racing o seu DNA. Enzo Ferrari tinha um “compromisso inabalável em construir carros bonitos para vencer corridas”, uma filosofia que continua a ser o pilar da empresa hoje. A Scuderia Ferrari é a equipa mais duradoura e bem-sucedida na história da Fórmula 1 (F1).

O automobilismo não é apenas um fim, mas também a plataforma de marketing da empresa. A Ferrari investe em vencer nas corridas, em vez de investir em comunicação tradicional. Existe uma transferência tecnológica direta da F1 para os carros de estrada, atuando a competição como uma ferramenta de desenvolvimento técnico.

– Modelo de negócio: escassez e lucratividade

O sucesso comercial da Ferrari baseia-se numa estratégia de “verdadeiro luxo” que visa manter os volumes de produção a um nível que satisfaça a procura, mas que não a exceda. Enzo Ferrari defendia que a empresa deveria “sempre entregar um carro a menos do que o mercado exige”.

  • Volumes e Margens: A Ferrari vende anualmente um volume minúsculo (cerca de 13.000 a 14.000 veículos). Este volume, minúsculo em comparação com outras marcas (como a BMW, que vende 143 vezes mais), permite à Ferrari gozar de um poder de fixação de preços que resulta em margens brutas flutuando acima dos 50%.
  • Gestão da Procura: A escassez intencional cria cachet. O backlog (livro de encomendas) da empresa pode cobrir a produção até ao final de 2026, sendo o tempo de espera “parte da experiência” do cliente.
  • Personalização: A personalização é um motor de crescimento e lucratividade. Programas como o Tailor Made ou o Atelier (serviços de restauro) podem duplicar o preço base do veículo. Notavelmente, cerca de 80% das vendas de novos Ferraris são feitas a clientes recorrentes.

Além da venda de carros de estrada, a empresa gera receita através de atividades exclusivas para clientes, como a organização Corse Clienti (que oferece a possibilidade de competir em pista) e a Cavalcade (eventos anuais para os melhores clientes).

– Operações e produção

A Ferrari produz os seus veículos na “Cidadela Ferrari” em Maranello, Itália. O complexo é uma mistura de estruturas originais, renovadas e edifícios de ponta.

  • Processo de Fabrico: A montagem combina a automação (apenas para tarefas pesadas, não ergonómicas ou que não agregam valor) com o trabalho manual altamente qualificado. Mais de 4.500 trabalhadores montam manualmente mais de 50.000 peças em cada carro.
  • Filosofia: As instalações de ponta são concebidas sob a filosofia Formula Uomo (Fórmula do e para o Povo), que visa criar os ambientes mais propícios para o trabalho, otimizando o ruído, a luz e a temperatura.
  • Materiais: A Ferrari utiliza extensivamente alumínio para a estrutura, sendo a primeira a adotá-lo a 100% no mercado de supercarros desde 1999. A fibra de carbono, 40% mais leve que o aço, é crucial para o chassis e carroçaria, sendo amplamente usada nas Séries Especiais.
– Estrutura corporativa e desempenho financeiro

A Ferrari N.V. é uma holding sob a lei holandesa, com sede corporativa em Maranello. A decisão de abrir o capital (IPO) foi tomada essencialmente porque a Fiat Chrysler (FCA) necessitava de capital para investir no desenvolvimento de novos modelos. O antigo CEO da FCA, Sergio Marchionne, que também foi presidente da Ferrari, esperava uma avaliação da Ferrari de, pelo menos, 10 mil milhões de euros.

Destaques Financeiros (FY 2024): A Ferrari reportou Receitas Líquidas de 6,7 mil milhões de euros e um EBITDA Ajustado de 2,6 mil milhões de euros para o Ano Fiscal de 2024.

– Eletrificação e futuro

A Ferrari está a avançar com a eletrificação, que começou na F1 em 2009.

  • Mix de Vendas: Em 2024, as vendas de carros foram divididas entre 51% de carros híbridos e 49% de carros com motor de combustão interna (ICE).
  • Primeiro VE: O primeiro carro totalmente elétrico da Ferrari será apresentado no final de 2025 (Q4 2025). A empresa considera que o passo para a eletrificação é uma “progressão natural”, permitindo-lhes aproveitar qualquer tecnologia para proporcionar uma emoção única ao condutor (inovação impulsionada pela emoção, ou emotion-driven innovation).

A Ferrari continua a ser um caso único no mundo empresarial, onde a sua forte ligação à história e à competição permite que a marca se mantenha no topo das avaliações do setor de luxo.

3. Destaques a nível financeiro (em milhões de $USD)

Este gráfico mostra a evolução da receita da Ferrari (em azul), do lucro operacional (em laranja) e do lucro líquido (em verde), desde 2015 até ao trailing twelve months (TTM). São três indicadores fundamentais para avaliar o crescimento, eficiência e rentabilidade da empresa.

Análise:
A Ferrari apresenta um crescimento notável e consistente da receita, que quase triplicou no período analisado, passando de cerca de 3 mil milhões $USD em 2015 para perto de 9 mil milhões $USD no TTM.

O lucro operacional e o lucro líquido acompanham essa tendência, crescendo de forma proporcional e mantendo margens elevadas. Esta expansão reflete a capacidade da empresa em aumentar preços médios por veículo e diversificar fontes de receita sem sacrificar rentabilidade.

✅ Sinal positivo – crescimento sustentado com margens operacionais estáveis e elevada eficiência financeira.

Este gráfico apresenta o fluxo de caixa operacional (laranja), o fluxo de caixa livre (verde escuro), o lucro líquido (verde claro) e a remuneração baseada em ações (rosa) entre 2015 e o TTM.

Análise:
A Ferrari demonstra uma forte geração de caixa operacional, que cresceu de menos de 800 milhões $USD em 2015 para mais de 2 500 milhões $USD no TTM.

O free cash flow segue a mesma tendência, mostrando que o negócio é altamente rentável e com baixo consumo de capital. A diferença reduzida entre operating cash flow e free cash flow indica uma gestão eficiente dos investimentos e despesas de capital.

A empresa também mantém baixos níveis de compensação em ações, o que evita diluição para os acionistas.

✅ Sinal positivo – geração de caixa sólida e disciplinada, suporte robusto ao crescimento e à distribuição de dividendos.

Este gráfico compara os valores de caixa e investimentos de curto prazo (verde) com a dívida total (vermelho) desde 2015 até ao TTM.

Análise:
A dívida total da Ferrari manteve-se controlada, variando entre 2 500 e 3 500 milhões $USD, enquanto o nível de caixa cresceu significativamente, ultrapassando 1 500 milhões $USD nos últimos anos.

Mesmo quando o endividamento aumentou (notavelmente em 2020), a empresa mostrou capacidade de gerar caixa suficiente para preservar a solvência e flexibilidade financeira.

O rácio dívida/caixa mantém-se confortável e a estrutura de capital é saudável.

Sinal positivo – estrutura financeira equilibrada e liquidez crescente, permitindo suportar investimentos e retornos aos acionistas.

Este gráfico mostra o número de ações em circulação (verde-claro) e o float disponível no mercado (azul) entre 2015 e o TTM.

Análise:
Desde a sua entrada em bolsa, o número de ações da Ferrari manteve-se estável, com apenas pequenas variações. O float aumentou ligeiramente à medida que a Fiat Chrysler (antiga acionista principal) reduziu a sua participação.

A estabilidade do número total de ações demonstra disciplina financeira e ausência de diluição significativa — um fator positivo para investidores de longo prazo.

Sinal positivo – número de ações estável e ausência de práticas de diluição da participação dos acionistas.

Este gráfico apresenta o ciclo de conversão de caixa (Cash Conversion Cycle), medido em dias, de 2015 até ao TTM.

Análise:
A Ferrari operou durante vários anos com um ciclo de caixa próximo de zero, o que revela gestão eficiente do capital de giro, com prazos curtos de inventário e recebimento.

O aumento acentuado do ciclo nos últimos anos (atingindo cerca de 120 dias no TTM) pode refletir maior tempo entre produção e entrega de veículos personalizados, ou gestão mais prudente de inventários num contexto de procura elevada.

Não representa necessariamente um risco, mas é um indicador a monitorizar.

⚠️ Sinal neutro – ligeiro aumento do ciclo de caixa, mas dentro de níveis saudáveis para um negócio de luxo sob encomenda.

O gráfico compara a receita (azul) com as contas a receber líquidas (rosa) de 2015 até ao TTM.

Análise:
As contas a receber mantêm-se praticamente estáveis e insignificantes face à escala da receita, o que demonstra excelente eficiência de cobrança e gestão de crédito a clientes.

Mesmo com o crescimento acelerado das vendas, o nível de recebimentos pendentes não se deteriorou – sinal de poder de negociação e qualidade da base de clientes.

Sinal positivo – receitas crescentes com excelente controlo sobre contas a receber.

O gráfico mostra a margem bruta (laranja), margem operacional (verde) e margem líquida (amarela) entre 2020 e o TTM.

Análise:
A Ferrari mantém uma margem bruta acima dos 50%, um nível excecional no setor automóvel. As margens operacional e líquida também são robustas, situando-se respetivamente entre 25% e 30% e entre 20% e 22%.

Isto confirma o modelo de negócio premium da empresa – preços elevados, volume controlado e custos fixos otimizados.

Sinal muito positivo – margens de luxo comparáveis às de marcas como Hermès e Rolex, não a fabricantes de automóveis.

Este último gráfico mostra o Return on Equity (ROE), Return on Invested Capital (ROIC) e Return on Assets (ROA) desde 2020 até ao TTM.

Análise:
Os rácios de rentabilidade da Ferrari são excecionais: o ROE ultrapassa consistentemente os 40%, o ROIC ronda os 25% a 30%, e o ROA situa-se acima dos 10%.

Estes níveis demonstram eficiência superior na utilização do capital investido e capacidade de gerar lucros significativos com poucos ativos, reforçando o moat económico da marca.

A consistência destas métricas ao longo do tempo mostra que o crescimento da Ferrari é altamente rentável e sustentável.

Sinal muito positivo – rentabilidade excecional e capital extremamente bem alocado.

4. Moat económico

O moat económico da Ferrari, ou seja, as suas vantagens competitivas face à concorrência, é um dos mais sólidos do mundo empresarial. Tal como as “valas defensivas” que protegiam os castelos medievais, o moat da Ferrari protege a empresa da concorrência e garante margens e rentabilidade muito acima da média do setor automóvel.

O principal pilar desse moat é a força da marca. A Ferrari transcende o conceito de fabricante de automóveis: é um ícone cultural e aspiracional, associado a luxo, prestígio e desempenho. O símbolo do cavalo rampante e o som característico dos motores V8 e V12 evocam emoções que poucas marcas conseguem igualar.

Esta dimensão emocional cria um poder de diferenciação tão grande que a procura pelos seus carros excede largamente a oferta, permitindo-lhe manter uma política de escassez deliberada e fixar preços elevados sem sacrificar vendas.

Outro elemento essencial é o modelo de negócio baseado na exclusividade e no controlo de volumes. A Ferrari produz intencionalmente poucos carros por ano, o que preserva o valor de cada modelo e reduz a pressão sobre descontos ou campanhas promocionais — práticas comuns em fabricantes de massa. Além disso, a empresa mantém margens operacionais superiores a 25%, números mais próximos de marcas de luxo como Hermès ou Rolex do que de fabricantes de automóveis tradicionais.

A marca reforça ainda o seu moat através de diversificação inteligente das receitas: licenciamento, produtos de lifestyle, experiências exclusivas, e a icónica Scuderia Ferrari na Fórmula 1, que funciona como vitrine global e laboratório tecnológico. A combinação entre escassez controlada, fidelização emocional, prestígio intemporal e inovação contínua cria uma barreira quase intransponível para concorrentes, transformando a Ferrari numa empresa com um moat económico de luxo, literalmente e figurativamente.

5. Principais concorrentes

A Ferrari atua num segmento muito específico do mercado automóvel — o dos veículos desportivos e de luxo de ultra-alta performance, onde o preço, o design, a exclusividade e a herança de marca são tão importantes quanto a engenharia.

Os seus concorrentes diretos são poucos e diferenciam-se por nicho e posicionamento. Eis os principais:

🟥 Lamborghini (Grupo Volkswagen / Audi AG)
  • Concorrência direta nos supercarros de motor central, como o Huracán e o Revuelto, que rivalizam com modelos como o Ferrari 296 GTB e o SF90 Stradale.

  • A Lamborghini foca-se em design agressivo, potência bruta e exclusividade, disputando o mesmo público-alvo de alta renda.

  • No entanto, a Ferrari mantém vantagem em história nas corridas e margem de marca premium.

🟨 Aston Martin Lagonda
  • Concorrente britânica com tradição e prestígio, embora com escala e rentabilidade inferiores.

  • Compete em modelos GT (Grand Touring) como o DB12 ou Vantage, face a equivalentes da Ferrari (Roma, 812 GTS).

  • A marca luta por rentabilidade e consolidação, sendo um rival mais fraco financeiramente, mas com grande apelo emocional e cinematográfico (marca de James Bond).

🟦 McLaren Automotive
  • Marca britânica de supercarros e hipercarros em rápido crescimento desde 2010.

  • Compete com Ferrari em desempenho e inovação tecnológica (ex.: Artura, 750S, Speedtail).

  • Apesar de produzir máquinas extraordinárias, a McLaren não possui o mesmo poder de marca nem histórico de fidelização, o que lhe confere desvantagem estrutural.

Porsche (Grupo Volkswagen)
  • Concorrente indireto, mas relevante: o 911 Turbo S e o GT3 RS competem com modelos de entrada da Ferrari (Roma, Portofino).

  • Contudo, a Porsche opera em volumes muito superiores e com um posicionamento mais “acessível”.

  • A Ferrari mantém-se num patamar muito mais exclusivo e rentável.

🟩 Bentley e Rolls-Royce (luxo extremo, não desportivo)
  • Concorrentes apenas no segmento de luxo artesanal, não em performance.

  • Clientes de Ferrari podem ter também veículos destas marcas, mas não os veem como substitutos.

  • São marcas de prestígio e conforto, enquanto a Ferrari representa adrenalina e emoção.

🟥 Bugatti e Koenigsegg (hipercarros)
  • Concorrentes na faixa de hiper-luxo e performance extrema, mas em volumes extremamente limitados.

  • Bugatti (agora parte do grupo Rimac-Porsche) e Koenigsegg são tecnicamente avançadas, mas não possuem o mesmo reconhecimento de marca nem história desportiva da Ferrari.

  • Competem pontualmente em modelos como o LaFerrari, SF90 XX ou futuras versões elétricas.

🟦 Maserati (Stellantis)
  • Antiga “irmã” da Ferrari, partilha algumas tecnologias e compete em GTs e SUV premium.

  • Contudo, a Maserati atua num segmento inferior, com volumes maiores e margens menores.

  • A Ferrari distingue-se pelo foco na exclusividade e performance artesanal.

🟩 Novos concorrentes elétricos (Tesla Roadster, Rimac, Lotus Evija)
  • Com a transição para a eletrificação, surgem novos rivais tecnológicos focados em hipercarros elétricos.

  • A Rimac, em particular, desafia a Ferrari na engenharia de alto desempenho elétrico.

  • Apesar disso, a Ferrari continua com vantagem competitiva em herança, desejo de marca e know-how em dinâmica de condução.

⚙️ Síntese

A Ferrari está posicionada acima da maioria dos seus concorrentes diretos, combinando:

  • Margens de luxo (superiores a 25% de margem operacional);

  • Produção controlada (<15 000 unidades/ano);

  • História lendária na Fórmula 1 e herança italiana incomparável.

Ou seja: Lamborghini e McLaren competem em performance, Aston Martin e Porsche em elegância e conforto, mas nenhuma delas rivaliza verdadeiramente com omoat emocional e económico” da Ferrari.

Abaixo partilhamos a interpretação detalhada de cada um dos indicadores financeiros mais importantes:

   Capitalização bolsista (Market Cap)

A Ferrari apresenta uma capitalização de mercado de cerca de 75 mil milhões de dólares, o que a coloca muito à frente da maioria dos fabricantes tradicionais, como Porsche (49 mil M$), Volkswagen (56 mil M$) e Stellantis (31 mil M$).

Apesar de fabricar uma fração do número de carros dos concorrentes, a Ferrari vale mais do que todos eles individualmente — reflexo do seu posicionamento de luxo e margens superiores.

Apenas a Tesla (1,46 biliões de dólares) e a Rolls-Royce Holdings (127 mil M$) superam este valor, embora com modelos de negócio completamente distintos.

Conclusão: a Ferrari é um gigante financeiro disfarçado de fabricante artesanal, valorizada como marca de luxo, não como montadora de automóveis.

   Rácio P/E (Price to Earnings)

O rácio P/E da Ferrari é de 42,6, substancialmente mais elevado do que o da Porsche (51,4) ou da Volkswagen (7,8), e acima da média do setor automóvel tradicional (geralmente entre 8 e 15).

Este múltiplo elevado reflete a confiança do mercado na consistência e previsibilidade dos lucros futuros da Ferrari, além do seu estatuto de “ativo de luxo” com moat económico forte.

A título de comparação, a Tesla apresenta um P/E extremamente elevado (293,7), enquanto fabricantes clássicos como Volkswagen e Stellantis mantêm rácios de um dígito.

Conclusão: múltiplo P/E alto, mas justificado por margens superiores, exclusividade e forte poder de preço.

   PEG Ratio (Price / Earnings to Growth)

A Ferrari apresenta um PEG de 4,3, o que sugere que as suas ações estão relativamente caras em relação ao crescimento esperado dos lucros.

No entanto, este valor deve ser lido com cautela: empresas de luxo com receitas previsíveis tendem a manter PEGs elevados, pois os investidores pagam pela estabilidade e pela resiliência em crises.

A Tesla, por exemplo, tem um PEG de 11,6 (claramente sobrevalorizada), enquanto a Rolls-Royce apresenta 0,79 e a Porsche 0,00 (indicando crescimento limitado ou instável).

⚙️ Conclusão: o PEG da Ferrari é alto, mas reflete a solidez e o perfil premium de longo prazo, não especulação excessiva.

   P/S Ratio (Price to Sales)

O rácio P/S da Ferrari é de 9,63, um número excecional no setor automóvel – a Volkswagen, por exemplo, tem 0,16 e a Porsche apenas 1,17.

Este indicador mostra que o mercado valoriza cada dólar de receita da Ferrari 60 vezes mais do que no caso da Volkswagen.

É um sinal inequívoco de que a Ferrari é vista como marca de luxo e não como produtora industrial.

Tesla, por comparação, tem um P/S de 16,21 — ainda mais elevado, mas com margens e volatilidade muito superiores.

Conclusão: a Ferrari é uma “empresa de luxo sobre rodas”, com valorização por unidade de receita mais próxima de LVMH do que de fabricantes de automóveis.

   Dividend Yield

O dividend yield da Ferrari é modesto, 0,75%, refletindo uma política de retenção de lucros para reinvestimento e expansão tecnológica.

Comparando, a Porsche distribui 4,53%, a Volkswagen 3,9% e a Stellantis quase 6,8%.

A Tesla, Rivian e XPeng não pagam dividendos.

A Ferrari, portanto, foca-se mais na valorização do capital e geração de fluxo de caixa livre do que na distribuição imediata de dividendos.

✅ Conclusão: baixo dividendo, mas coerente com uma estratégia de crescimento e excelência operacional.

   Total Debt / EBITDA

A Ferrari mantém um rácio Dívida / EBITDA de 1,12, dentro de um nível extremamente saudável.

É muito inferior ao da Volkswagen (4,83) ou da Aston Martin (6,96), e próximo de empresas altamente solventes como a Rolls-Royce (1,33).

Este indicador reforça a ideia de gestão financeira prudente e grande capacidade de gerar lucros face ao nível de endividamento.

Conclusão: endividamento controlado e sustentável, reforçando a robustez financeira da marca.

   Current Ratio

O current ratio (ativo corrente/passivo corrente) da Ferrari é 2,30, um valor excelente que indica liquidez confortável e capacidade de cobrir obrigações de curto prazo com folga.

Concorrentes como Volkswagen (1,10) e Porsche (1,35) apresentam rácios bem inferiores, enquanto Rivian (2,71) é exceção devido ao capital acumulado antes da rentabilidade.

Conclusão: posição de liquidez sólida, típica de uma empresa financeiramente disciplinada.

   Debt Servicing Ratio

A Ferrari apresenta um debt servicing ratio de 1,09%, o que demonstra uma baixa proporção dos lucros operacionais alocados ao serviço da dívida.

Isto confirma que o seu endividamento é facilmente gerido e não representa qualquer pressão sobre o fluxo de caixa.

A Rolls-Royce e a Aston Martin têm rácios muito superiores, refletindo estruturas de capital mais pesadas e maior risco financeiro.

Conclusão: baixo custo da dívida e grande eficiência no serviço financeiro.

   EPS Growth (Crescimento do Lucro por Ação – próximos 5 anos)

A Ferrari apresenta um crescimento estimado do EPS de 9,9% ao ano, valor consistente e saudável para uma empresa de luxo madura.

Fica abaixo da Tesla (25%) e da Rolls-Royce (21%), mas acima da maioria dos fabricantes tradicionais.

Isto indica que, mesmo com volumes limitados, a Ferrari continua a expandir margens e a melhorar resultados através de inovação e gestão de preços.

Conclusão: crescimento moderado, mas sustentável e de elevada qualidade, apoiado por margens estáveis e diversificação de receitas.

   Síntese Final

A Ferrari (RACE) destaca-se dos seus concorrentes por:

  • Margens e múltiplos de valorização mais próximos do setor de luxo do que da indústria automóvel;

  • Estrutura de capital sólida, baixo endividamento e liquidez confortável;

  • Crescimento previsível e contínuo, suportado por uma base de clientes fiéis e pelo poder da marca.

Enquanto a Tesla aposta em disrupção e volume, e marcas como Porsche e Aston Martin lutam por estabilidade, a Ferrari mantém-se num campeonato próprio: um negócio de luxo, com moat económico, alta rentabilidade e uma pista praticamente sem rivais.

6. Catalisadores de crescimento

A análise detalhada dos catalisadores de crescimento da Ferrari N.V. revela que o sucesso e a valorização contínua da empresa são impulsionados por uma combinação estratégica de escassez intencional, alavancagem do marketing de competição, inovação tecnológica focada e uma profunda fidelização de clientes.

– Estratégia de escassez e poder de fixação de preços

O principal motor do crescimento da Ferrari, apesar dos seus baixos volumes de produção, é a sua estratégia de luxo verdadeiro baseada na escassez.

  • Produção Limitada: A Ferrari vende intencionalmente um volume muito pequeno de veículos (cerca de 13.000 a 14.000 automóveis por ano). Isto é minúsculo em comparação com outras marcas prestigiadas (por exemplo, a BMW vende cerca de 143 vezes mais).
  • Vantagem Enzo: O sucesso comercial reside na estratégia de manter os volumes a um nível que “satisfaça a procura, mas não a exceda”. O fundador, Enzo Ferrari, insistia que a empresa deveria “sempre entregar um carro a menos do que o mercado exige”.
  • Margens Elevadas: A escassez gera cachet (prestígio), que por sua vez gera margem. Este poder de fixação de preços permite que a Ferrari tenha margens brutas que flutuam acima dos 50%, um nível incomum para fabricantes de automóveis.
  • Alavancagem Operacional: Este modelo financeiro concede à Ferrari uma alavancagem operacional significativa. Embora os gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tenham crescido em termos nominais, a P&D como percentagem da receita diminuiu de 20% para 13%, indicando que os custos não precisam de ser escalados linearmente com o aumento das receitas e dos preços.
  • Livro de Encomendas: A empresa mantém um longo backlog (livro de encomendas), que atualmente cobre a produção até ao final de 2026. O tempo de espera faz parte da experiência.
– O Automobilismo como pipeline tecnológico e de marketing

O automobilismo é fundamental, pois funciona como o DNA e a plataforma de marketing da Ferrari, além de ser um catalisador técnico.

  • Transferência Tecnológica (R&D): O racing não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas uma ferramenta de desenvolvimento técnico. A ligação com as corridas cria um pipeline tecnológico, transferindo inovações da F1 para os carros de estrada. Inovações como paddle shifters, construção em fibra de carbono, motores V12 e a tecnologia híbrida (que começou na F1 em 2009) transitaram da pista para os carros de produção.
  • Exposição Global: A F1 proporciona duas horas de exposição global em horário nobre a uma audiência que se sobre-indexa no 1% de rendimentos familiares mais altos.
  • Branding Aprimorado: O crescimento da popularidade da F1, amplificado pelo “efeito Netflix”, atraiu um público mais jovem e feminino. Isto coincide com uma queda na idade média dos primeiros compradores da Ferrari para pouco menos de quarenta anos.
  • Atração de Parceiros: A Scuderia Ferrari, sendo a equipa mais longeva e bem-sucedida na F1, oferece uma plataforma universal para atrair sponsors e parceiros que integram os seus serviços com o que a Ferrari está a fazer.
– Maximização da receita através da personalização e serviços

Para aumentar a lucratividade sem aumentar os volumes de produção, a Ferrari investe na expansão da margem através de produtos e serviços pós-venda.

  • Personalização (Customization): A personalização é um fator de crescimento crucial e um motor de lucro crescente. Programas como Atelier e Tailor Made oferecem aos clientes a possibilidade de escolher acabamentos e materiais personalizados (como couro, fibra de carbono e alumínio). Estes toques podem levar a que o preço do veículo duplique o preço base.
  • Serviços de Cliente Exclusivos: A Ferrari desenvolve atividades que envolvem os clientes e os fazem sentir parte de uma família, ajudando a aumentar os resultados. Exemplos incluem a organização Corse Clienti (que oferece aos clientes a possibilidade de competir na pista) e a Cavalcade (eventos anuais para os melhores clientes).
  • Herança e Clássicos: O Departamento Clássico mantém a ligação com colecionadores, oferecendo programas de restauro para modelos vintage e fornecendo um certificado de autenticidade, graças à documentação exaustiva de cada carro produzido. A manutenção de carros antigos (cerca de 90% de todos os Ferraris já produzidos continuam na estrada) alimenta serviços de manutenção especializados por até 20 anos, reforçando a visão de que a propriedade de um Ferrari é um ativo.
– Fidelização de clientes e crescimento recorrente

A lealdade da base de clientes é um pilar de estabilidade e crescimento previsível para a Ferrari.

  • Clientes Recorrentes: Cerca de 80% de todas as novas vendas de Ferraris são feitas a clientes recorrentes.
  • Mentalidade de Investimento: A Ferrari incentiva os compradores a verem a aquisição como um “investimento”. O facto de os Ferraris em segunda mão manterem ou apreciarem o seu valor (superando o de marcas como Lamborghini ou Bentley) reforça a racionalização da compra e a lealdade a longo prazo.
– Inovação tecnológica e expansão do portefólio

O crescimento é assegurado pela constante renovação e expansão cautelosa do portefólio, impulsionada pela inovação.

  • Progressão para Eletrificação: A Ferrari encara a eletrificação como uma “progressão natural”. Em 2024, 51% das vendas de carros foram de veículos híbridos, e 49% foram de motores de combustão interna (ICE). A empresa está a utilizar a inovação impulsionada pela emoção (emotion-driven innovation) para garantir que as novas tecnologias (como os veículos elétricos) proporcionem uma emoção única ao condutor.
  • Primeiro Elétrico: O lançamento do primeiro carro totalmente elétrico (previsto para o final de 2025) representa uma adição crucial ao portefólio, que passará a oferecer três tipos de tração: ICE, Híbrido e Elétrico.
  • Desenvolvimento de Supercarros: Os supercarros (como o F80) são fundamentais porque são a montra da tecnologia mais recente, inovadora e de alto desempenho, que posteriormente é transferida para o resto da gama.
  • Expansão da Linha de Produtos: Uma vez que a produção de modelos individuais é limitada (tipicamente cerca de 1.000 unidades por ano), a Ferrari impulsiona o crescimento do volume através da expansão da sua linha de produtos, lançando cerca de quinze modelos a cada quatro anos.

Em essência, os catalisadores de crescimento da Ferrari formam um ciclo virtuoso: a herança do automobilismo financia a P&D e atrai cachet; essa inovação técnica permite margens brutas elevadas; as margens elevadas financiam a exclusividade artesanal (personalização), que solidifica a fidelidade de clientes que voltam a comprar (80% de clientes recorrentes), garantindo que a procura exceda consistentemente a oferta.

7. Balance Sheet e principais indicadores de dívida

Rácio corrente

(Current ratio)

2,30

> 1 significa que tem mais ativos do que dívida

Fonte: FinViz

Dívida em relação ao Capital Próprio

(Debt/Equity ratio)

0,76

< 1 é o ideal e significa que a empresa tem mais capitais próprios do que dívida

Fonte: Macrotrends

Dívida total sobre o EBITDA

(Total debt to EBITDA)

1,12

< 3 é o ideal e é conservador

Fonte: StockOracle

Rácio do serviço da dívida

(Debt Servicing ratio)

1,09%

< 30% é o ideal

Fonte: StockOracle

Comentários sobre os vários indicadores de dívida:
Rácio Corrente (Current ratio) – 2,30
  • O que significa: O current ratio compara os ativos correntes (caixa, inventário, contas a receber, etc.) com os passivos correntes (dívidas e obrigações de curto prazo). Um valor superior a 1 significa que a empresa consegue pagar todas as obrigações de curto prazo com os ativos que tem disponíveis no próximo ano.
  • Interpretação: Um rácio de 2,30 indica uma posição de liquidez muito confortável.
    A Ferrari tem mais do dobro dos ativos correntes necessários para cumprir com os seus passivos de curto prazo, o que demonstra gestão prudente de caixa e margem de segurança financeira elevada. Para um fabricante automóvel (setor tradicionalmente intensivo em capital) este nível é excepcional.

Dívida em Relação ao Capital Próprio (Debt/Equity Ratio): 0,76

  • O que significa: Este rácio compara a dívida total da empresa com o seu capital próprio. Valores inferiores a 1 significam que a empresa financia mais com capitais próprios do que com dívida, geralmente visto como sinal de estabilidade e menor risco financeiro.

  • Interpretação: Com um Debt/Equity de 0,76, a Ferrari apresenta uma estrutura de capital equilibrada e conservadora. Não depende excessivamente de dívida para financiar operações ou investimentos, o que reduz risco financeiro e torna a empresa mais resiliente a ciclos económicos adversos ou aumentos das taxas de juro. É um valor saudável e adequado a uma empresa de luxo com forte geração de caixa.

Dívida Total sobre o EBITDA (Total Debt to EBITDA): 1,12

  • O que significa: Este indicador mede quantos anos a empresa demoraria a pagar toda a dívida atual se utilizasse 100% do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

    Regra geral:

    • < 3 é conservador

    • 1–2 é excelente

    • 4 começa a ser preocupante

  • Interpretação: Com um rácio de 1,12, a Ferrari está num nível extremamente saudável de alavancagem. Isto significa que, em teoria, a empresa conseguia amortizar toda a dívida em pouco mais de 1 ano usando apenas o seu EBITDA, um resultado muito forte e incomum no setor automóvel. Demonstra disciplina financeira e reforça a robustez do modelo de negócio premium.

Rácio do Serviço da Dívida (Debt Servicing Ratio): 1,09%

  • O que significa: Este rácio mostra que percentagem dos lucros operacionais é usada para pagar juros da dívida. Quanto mais baixo, melhor.

         Valores de referência:

    • < 30% → excelente

    • 30%–50% → aceitável

    • 50% → risco financeiro elevado

  • Interpretação:

    A Ferrari precisa apenas de 1,09% do seu lucro operacional para pagar os encargos da dívida. Isto é ultra-conservador e demonstra que:

    • o custo médio da dívida é baixo,

    • a empresa gera muito mais lucros do que necessita para cumprir obrigações financeiras,

    • praticamente não existe pressão financeira.

    É um dos indicadores mais impressionantes do balanço da Ferrari e reforça seu estatuto de empresa altamente solvente e geradora de caixa.

8. Avaliação da empresa em termos fundamentais

Aqui fica a análise técnica detalhada da …., com base nos indicadores financeiros mais importantes:

  • Fontes para consulta direta destes indicadores:

P/E ratio histórico

A imagem seguinte fornece um resumo estatístico valioso do P/E da …… nos últimos dez anos.

  • P/E Atual (Today): 56.03
  • Média Histórica (Average): 118.73
  • Mediana (Median): 77.29
  • Mínimo (Minimum): 15.23 (Jun 2022 quarter)
  • Máximo (Maximum): 394.41 (Dec 2015 quarter)
….

Gráfico com o P/E ratio, EPS e Preços das ações nos últimos 10 anos

Este é um excelente gráfico para ter uma visão geral e dinâmica das três principais métricas: P/E, EPS (Lucro Por Ação) e Preço da Ação.

  • P/E Ratio (Barras Azuis): Representa o rácio Preço/Lucro da Netflix ao longo do tempo (trimestralmente, TTM – Trailing Twelve Months).

    • ..
    • ..
    • ..
  • EPS (Lucro Por Ação – Linha Laranja): Representa o lucro atribuível a cada ação.

..

..

..

Tabela com o P/E ratio, EPS e Preço das ações da … nos últimos 6 anos

A tabela seguinte fornece dados anuais para P/E, alteração de P/E em termos percentuais, Preço das ações e EPS.

  • P/E ratio (por ano):
    • ..
    • ..
    • ..
  • P/E change: ……
  • Price (Preço da Ação):
    • ..
  • EPS (Lucro Por Ação):
    • ..
    • ..

Tabela com o P/E ratio, EPS e Preço das ações da …. nos últimos 7 trimestres

A tabela seguinte detalha os dados trimestrais, oferecendo uma visão mais granular da evolução recente.

  • P/E Ratio (por trimestre – TTM):
    • ..
    • ..
    • ..
    • Estes valores confirmam a …
  • EPS (Lucro Por Ação):
    • …..

Esta tabela reforça a narrativa de que …

Conclusões sobre estes indicadores fundamentais

As conclusões sobre a …., com base nestes dados da análise fundamental, são as seguintes:

  • ..

  • ..
  • ..
  • ..

Em suma, a …

Valores intrínsecos estimados

Aqui ficam os dados de base e os pressupostos utilizados para a estimativa dos valores intrínsecos da …..

            – MÉDIA entre as 3 plataformas: …..%

  • N.º de ações (N.º of Shares Outstanding): …… milhões
  • Beta: …..
  • Taxa de Desconto em função do Beta (Discount rate ou custo de oportunidade do teu dinheiro investido) = …..%

Com base nos dados anteriores, os intervalos de valores intrínsecos estimados para a Netflix são:

Valor intrínseco conservador

$…,..

Calculado com base na previsão mais baixa (em termos de crescimento) do EPS para os próximos 3 a 5 anos

Valor intrínseco base

$…,..

Calculado com base na média das previsões de crescimento do EPS para os próximos 3 a 5 anos

Valor intrínseco agressivo

$…,..

Calculado com base na previsão mais elevada (em termos de crescimento) do EPS para os próximos 3 a 5 anos

9. Análise Técnica

Aqui fica uma interpretação detalhada dos principais suportes, resistências e médias móveis importantes (50, 150, 200 dias) no gráfico da ação…., com base nas análises do TradingView e/ou do Yahoo Finance:

Principais níveis de suporte
  • ~ $1 000: ….
  • ~ $942 – $945  (MM200)
    A média móvel de 200 semanas (~50 meses) situa-se nesta faixa (https://finance.yahoo.com/…). Serve como suporte muito forte em correções mais profundas.
Principais níveis de resistência
  • ~ $1 250 – $1 265
    Esta faixa funciona como resistência formada por topos anteriores e pelo fecho dos máximos do período compreendido entre ……
Médias móveis (MM) semanais
Interpretação

10. Principais riscos de investimento na empresa

Nenhuma empresa está isenta de riscos, e a Ferrari, apesar do seu sucesso, tem vários fatores que podem impactar negativamente o seu desempenho.

Os principais riscos de investimento na Ferrari N.V. (RACE) estão largamente interligados com a sua estratégia de luxo e o ambiente operacional em que se insere, abrangendo a sua valuation (avaliação), a complexa transição tecnológica e a pressão inerente ao seu DNA de corridas.

– Risco de avaliação (valuation) extremamente elevada

O risco financeiro mais evidente é que as ações da Ferrari são negociadas com múltiplos historicamente altos, o que cria uma cabeça de vento (headwind) para os retornos futuros.

  • Múltiplos Elevados: A Ferrari é avaliada no mercado de ações de forma comparável a uma empresa de software de alto crescimento, negociando a um rácio Preço/Lucro (P/E) que ronda as 50 vezes os lucros. Este P/E é considerado muito caro (richly priced) pelos analistas.
  • Contração de Múltiplos: Este múltiplo de 50x está ligeiramente acima da média de 48x dos últimos cinco anos da empresa. Se houvesse uma contração nos múltiplos – por exemplo, se o P/E caísse para cerca de 30x (ainda um prémio em relação à média do mercado, mas considerado mais razoável) – isso resultaria numa queda no valor justo da ação.
  • Ineficiência de Capital: Devido ao preço elevado da ação, o capital investido em programas de retorno ao acionista torna-se menos eficiente. O dispêndio de cerca de 40% dos lucros anuais em recompras de ações (buybacks) resulta apenas numa redução da contagem de ações de aproximadamente 0,7% ao ano. Da mesma forma, embora a empresa pague dividendos (cerca de 27% dos lucros), o rendimento (yield) do dividendo é de apenas 0,8% aos preços atuais da ação, tornando-o um fator pouco relevante nos retornos esperados.
– Riscos na transição para a eletrificação (EV)

A mudança para a tecnologia totalmente elétrica (EV) representa o maior salto tecnológico da Ferrari até agora. Este é um caminho repleto de desafios técnicos e de mercado:

  • Ceticismo e Demanda: O CEO da Ferrari está a assumir um risco considerável ao investir milhões no novo “E-building“, que permitirá a produção de qualquer tipo de carro. No entanto, existem relatos de que a procura por um modelo elétrico é baixa (little demand).
  • Desafios Técnicos: Há desafios em construir baterias que sejam capazes de atingir a velocidade e desempenho que a Ferrari exige dos seus veículos.
  • O Dilema do Som: Existe o risco de que o som característico do motor Ferrari – o Ferrari Roar – seja substituído por motores silenciosos, o que poderia potencialmente impactar a emoção única que a marca se propõe a entregar ao condutor.
  • Incerteza do Mercado: A Ferrari está a desenvolver o seu primeiro EV num mercado muito incerto, e precisa de equilibrar a sua herança lendária com a inovação tecnológica. O primeiro carro totalmente elétrico será apresentado no final de 2025 (Q4 2025), conforme o planeado.
– Riscos operacionais e de marca no automobilismo

O automobilismo é o DNA da Ferrari. A forte ligação com as corridas é um pilar da sua estratégia de marketing e de desenvolvimento tecnológico. Consequentemente, o desempenho e a gestão da equipa de F1 acarretam riscos:

  • Pressão por Resultados: A Ferrari é a equipa mais longeva e bem-sucedida da história da F1, o que gera uma pressão intensa por vitórias. Uma temporada acidentada (bumpy season) recente resultou em rumores persistentes de que o cargo do chefe de equipa estaria em risco, sublinhando a natureza de alta pressão da gestão.
  • Revolução Técnica de 2026: A Fórmula 1 enfrentará a maior revolução técnica das últimas três décadas em 2026, com regulamentos totalmente novos para motores, chassis e sistemas de combustível. Este “quadro em branco” (clean slate) representa um enorme potencial, mas também um grande desafio, pois a Ferrari tem de confiar nas suas próprias escolhas e inovações sem saber o que os seus concorrentes farão.
  • Dependência da Exclusividade: Embora a estratégia da Ferrari seja entregar “um carro a menos do que o mercado exige”, os volumes totais de veículos expedidos quase duplicaram na última década. A empresa está a aumentar o crescimento através da expansão da sua linha de produtos (cerca de quinze lançamentos a cada quatro anos) e a depender mais de volumes mais elevados do que antes. Embora os custos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) tenham diminuído como percentagem da receita, a dependência crescente de volume pode, a longo prazo, arriscar a diluição do cachet (prestígio) que sustenta as margens brutas superiores a 50%.
– Riscos geográficos e cautela de mercado

A empresa adota uma abordagem cautelosa na sua orientação e na gestão das vendas em regiões voláteis.

  • Mercado Chinês: O mercado da Grande China tem sido difícil para todos os players, incluindo o setor de luxo. As vendas da Ferrari registaram uma queda (slump) no quarto trimestre. Embora a Ferrari veja a região como uma oportunidade de longo prazo, a empresa mantém uma estratégia de que o mercado da Grande China represente menos de 10% das suas vendas.
  • Cautela na Orientação: A gestão da Ferrari é intencionalmente cautelosa na emissão de orientações financeiras, pois acreditam que precisam de ser cautelosos devido aos muitos fatores externos que afetam o mercado (“there are many things happening around us“). A política é ser “prudentes” (cautious) para que a informação partilhada seja baseada em factos e evitar criar falsas expectativas.

Área reservada para subscritores

Faça log in para aceder à sua conta.

Este site utiliza cookies para permitir uma experiência incrível a cada utilizador...

Este site utiliza cookies para permitir uma experiência incrível a cada utilizador...

Negócios, investimentos e um estilo de vida livre

Preenche os dados seguintes para receberes os meus emails semanais.