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A primeira palestra em que me recordo de ter participado para apresentar o meu trabalho de estágio foi em 2002, em Madrid (Espanha) numa sala que me intimidou pelo nível de formalidade.
O Professor Catedrático com quem eu trabalhava nessa altura, perguntou aos vários elementos da equipa:
– Quem está disposto a apresentar, em Madrid, o estudo que fizemos em 2001 no âmbito das cheias que ocorreram na região do Baixo Mondego?
Eu não tinha experiência ao nível da apresentação de trabalhos académicos em Congressos Internacionais, mas desde os 15 anos que realizava concertos com as minhas bandas de rock… e achei que seria praticamente a mesma coisa!
Cheguei à sala da Conferência muito mais cedo do que os outros palestrantes e fiquei boquiaberto com o aspeto clássico, e com a beleza, do grande anfiteatro. Para perceberes a que me refiro, sugiro que pesquises por imagens, num motor de busca, os seguintes termos (ou cliques na hiperligação seguinte):
Gran Anfiteatro del Colegio de Médicos de Madrid
Eu estava extremamente nervoso antes da apresentação.
Tive vontade de vomitar, sentia os intestinos às voltas, mas depois de entrar em palco, as informações começaram a fluir naturalmente.
No final, ninguém me colocou questões e por isso lembro-me de pensar:
– Uau… ninguém teve dúvidas! Devo ter explicado tudo muito bem.
Atualmente acredito que foi exatamente o contrário. Como apresentei a conferência em português para uma audiência dominada por espanhóis, italianos e outros investigadores que conheciam apenas o inglês como segundo idioma, acredito que a audiência não teve dúvidas, nem quis colocar questões, porque não entendeu nada do que eu disse.
Não tive o cuidado de perceber qual seria a nacionalidade das pessoas que iriam fazer parte do público e por isso, mesmo estando em Espanha, num Congresso Internacional, não antecipei a barreira linguística como um problema. Se o tivesse feito, poderia ter tentado apresentar tudo em inglês ou poderia falar em português, mas muito mais lentamente para que me percebessem.
Adiante… as pessoas tendem a recordar-se apenas das apresentações excecionais que as marcaram ao longo da vida e por isso acredito que atualmente nenhum dos investigadores que esteve presente naquele dia se recorda do português de cabelo comprido que esteve 15 minutos em palco a falar para ele próprio.
Desde então, participei em inúmeras conferências científicas e lembro-me de ficar sempre revoltado por ter de pagar tanto dinheiro no ato da inscrição… em conferências onde, recordo, eu iria fazer parte do grupo de oradores. Percebi que havia um grande negócio montado à volta das conferências dessa natureza e também de algumas revistas científicas que se associavam regularmente a esses eventos.
– Quando for um investigador com muitos artigos científicos publicados, talvez tenha acesso gratuito às grandes conferências internacionais, ou talvez até me paguem para ser orador! – pensava eu.
Mas eu já estava a ficar farto de investigar “cada vez mais sobre cada vez menos” e comecei a perceber que os resultados que obtinha, e publicava em revistas científicas, não acrescentavam nada à vida das pessoas.
Alguns anos depois de criar a minha primeira empresa, em novembro de 2014, tinha decidido criar uma palestra direcionada aos recém-licenciados, com o intuito de lhes mostrar que a procura de emprego deverá ser baseada num processo bem estruturado e não apenas na elaboração e envio do currículo.
Estruturei essa palestra no formato de desafio de 30 dias e dei-lhe o nome “Como conseguir emprego em 30 dias”. Após alguma divulgação através do Facebook, eu e a minha equipa ficámos espantados quando recebemos a inscrição de mais de 200 participantes.
Divulguei o sucesso desse primeiro evento nas redes sociais e comecei a receber e-mails de várias instituições (e.g. Universidades, associações, entidades privadas) de todo o país, a perguntar quanto é que eu cobraria para replicar o evento no âmbito de uma atividade que desenvolvessem.
Finalmente! Já não tinha de pagar para ser orador numa conferência, começavam a surgir entidades interessadas em pagar-me para que eu replicasse a minha palestra.
Quanto mais eu participava em palestras, e mais as divulgava online, mais pedidos recebia para replicar os eventos.
Rapidamente percebi que os níveis de stress e ansiedade, e as horas de trabalho que necessitava para criar os meus próprios eventos a partir do zero, eram desencorajantes.
Apercebi-me, em pouco tempo, que adoro participar em eventos, mas não gosto de os organizar, nem gerir, e por isso decidi redirecionar toda a comunicação que fazia de forma a que os organizadores de eventos percebessem que eu estaria disponível para ser contratado, mas não estaria disponível para participar na organização dos eventos.
Em 2017, decidi começar a investir muito mais na minha reputação (marca pessoal), porque acreditei que isso serviria de catalisador para novos negócios na área da consultoria ambiental, iria ajudar-me a vender mais exemplares do meu primeiro livro e mais modelos de currículos editáveis em Word, iria ser convidado como orador remunerado para mais eventos presenciais, etc…
Investi na criação do meu site pessoal www.silva-santos.com que, na primeira versão, tinha uma entrada com um grande bloco designado “Palestras disponíveis”. O designer com quem eu estava a trabalhar telefonou-me e disse:
– Inventa mais dois nomes de palestras.
– Mais dois nomes? Eu só tenho uma palestra estruturada… é a palestra sobre a procura de emprego. – respondi.
– Eu sei… mas inventa mais duas palestras que queiras apresentar no futuro. Estou a criar uma entrada para o teu site pessoal e pretendo destacar os nomes das três palestras para as quais as entidades te podem contratar. – referiu o designer, incentivando-me a anunciar a venda de algo que eu ainda não tinha criado.
Foi desta forma despreocupada que nasceram as palestras “Ideias ridículas que transformei em negócios” e “WANTED – não procure… seja encontrado!”.
Comecei a ser convidado para apresentar essas palestras pouco depois de as colocar online e de as partilhar nas redes sociais. Nessa altura, tinha divulgado apenas tópicos do que iria apresentar, porque nem eu sabia como seriam as três horas de cada uma dessas novas palestras.
A primeira vez que preparei a palestra “Ideias ridículas que transformei em negócios”, fi-lo porque já havia uma primeira entidade interessada em pagar-me para falar durante três horas sobre esse assunto. O mesmo aconteceu na palestra seguinte… e foi assim que percebi que é possível vender palestras mesmo antes de estas estarem criadas.
Obviamente, eu sabia que tinha muitas histórias de vida para partilhar nessas duas palestras novas, não me arriscaria a anunciar uma palestra sobre assuntos que não estivesse à vontade para partilhar.
Repeti o mesmo processo em cada uma das palestras novas:
– Preparei a apresentação de 3 horas com espaço para questões;
– Divulguei fotos e vídeos posteriormente a cada evento;
– Afinei os conteúdos de cada palestra em função do que ia acontecendo em cada evento e do feedback que ia recebendo…
Cada uma dessas palestras está atualmente tão afinada que eu conseguiria apresentá-las, caso fosse necessário, sem recurso a qualquer tipo de projeção audiovisual.
Baseei todas as apresentações nas minhas histórias de vida, em tudo o que fiz, como fiz e como me ergui nas (muitas) situações em que fracassei.
Segundo me têm dito os organizadores dos eventos onde participo, essas partilhas pessoais são as grandes mais-valias que ofereço em cada uma das palestras em que participo.
Deixei de organizar os meus próprios eventos com tanta frequência e decidi focar a minha participação em eventos organizados por outras entidades. Foi uma forma interessante que encontrei de participar e ser remunerado nesse tipo de eventos sem o stress, e os custos enormes, de os organizar.
No futuro quero participar em menos eventos presenciais anualmente. Nesse sentido, tenho vindo a aumentar os preços que cobro para participar em cada evento.
Não quero estar em todo o lado, a qualquer hora. Pretendo criar escassez em relação à minha presença física.
Quem pretender aceder ao meu conteúdo online exclusivo, para assistir individualmente ou para projetar num evento formativo, desde 2019 que pode fazê-lo através dos modelos de subscrição que criei no meu site pessoal e que abordei neste artigo do blog.
Por não ter de andar a correr de um lado para o outro, a toda a hora, para participar em eventos presenciais, consigo dedicar muito mais tempo a produzir conteúdo escrito, em áudio e em vídeo… e acredito que toda a gente fica a ganhar com isso.
Este artigo é um excerto do livro “a Ave Rara II… do caos e das dívidas a um estilo de vida livre!” e integra a série de episódios “Trabalhar 4 horas/dia“.
Negócios, investimentos e um estilo de vida livre
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