Nos primeiros meses, enquanto eu era o único funcionário da minha empresa, lembro-me de pensar que os potenciais clientes poderiam ficar mais interessados em trabalhar com uma empresa que tivesse um CEO, uma secretária, um departamento comercial, várias viaturas sempre em movimento na estrada, etc…

Achei que se os clientes e potenciais clientes sentissem que estavam a lidar com uma empresa estruturada como uma verdadeira empresa, e não com o CEO que era o gajo que fazia tudo a partir de uma sala de estudo municipal, iriam certamente dar o benefício da dúvida à NOCTULA – Consultores em Ambiente.

Para além de mim, a Irina Tavares é a mais “antiga colaboradora” da empresa.

Sempre pronta para responder aos e-mails dos clientes, sempre minuciosa com os detalhes de cada proposta de orçamento e sempre indisponível quando alguém a tentava contactar por telefone!

A Irina tinha um perfil falso no Facebook, sem fotografia, tinha uma assinatura de e-mail personalizada, também sem fotografia, mas nunca ninguém chegou a ouvir a sua voz… porque ela nunca estava presente quando telefonavam para o número de telemóvel que estava na sua assinatura de e-mail.

– Ah… bom dia… eu gostaria de falar com a colega Irina Tavares. – dizia o potencial cliente depois de estranhar ouvir uma voz masculina (a minha) a atender aquela chamada.

– Olá, bom dia. A colega Irina está em serviço externo e hoje tem o telemóvel a reencaminhar para este número. Posso ajudá-lo? – respondia eu prontamente.

– Talvez possa… estou a ligar para falar sobre a proposta que nos enviaram para o projeto XPTO…

Eu mostrava que estava a par de toda a informação que o potencial cliente necessitava, esclarecia todas as suas dúvidas e passava uma excelente primeira impressão.

Um dia, estava a conversar com um amigo de infância e ele disse:

– Estive a dar uma vista de olhos no site da tua empresa e percebi que estão a crescer… até já tens uma colaboradora com um nome exótico: Irina. Eu conheço-a?

– Sim… conheces melhor do que pensas… a Irina Tavares, sou eu! – admiti.

– Meu… tu és doente! – respondeu prontamente o meu amigo, enquanto arregalava os olhos, como que a mostrar medo da psicose que ele achava que me estaria a afetar.

Criei esta colaboradora fictícia para me fazer companhia no início da empresa. Foi a minha amiga imaginária durante aquela primeira fase tão solitária. Mais tarde acabei por imortalizá-la com uma citação na contracapa, e em alguns marcadores, do meu livro “Como conseguir emprego em 30 dias”.

Quem se lembra da Irina de 2009, já me disse que adora saber que ela continua a aparecer associada ao meu trabalho, tantos anos depois!

Apesar de “ela” continuar a ter um perfil falso no Facebook, já não escreve a ninguém, apenas me faz companhia e me ajuda a encontrar soluções criativas para aquilo que muitas vezes me parece impossível.

Sei que é ousado fazê-lo, e talvez até um pouco ridículo, mas tenho que admitir:

amo-te, Irina…