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Nos últimos meses, multiplicaram-se as comparações entre a atual onda de investimento em Inteligência Artificial (IA) e a bolha das empresas dot-com dos anos 90.
Nas redes sociais, é comum vermos gráficos que ligam empresas como a OpenAI, a Nvidia, a Microsoft ou a AMD, acompanhados de frases do género:
Eu dou 500 euros ao Zé, o Zé dá 500 euros ao Rui, o Rui dá-me 500 euros a mim… afinal a economia cresceu ou só andámos apenas a trocar o dinheiro de mãos?
A insinuação é clara: que a IA não está a criar valor real, apenas a reciclar capital.
Mas… será mesmo assim?
Vamos lá olhar para os factos com mais atenção.
As transações entre a OpenAI, Microsoft, Nvidia, AMD, Oracle e tantas outras empresas não são meras trocas contabilísticas.
São investimentos fortíssimos em infraestrutura tecnológica, capacidade computacional, desenvolvimento de software e propriedade intelectual.
Quando a OpenAI compra chips à Nvidia, ou quando a Microsoft injeta capital na OpenAI, isso não se trata de uma troca estéril, mas sim de uma aposta em algo que aumenta a capacidade produtiva global.
Cada euro (ou dólar) que circula neste ecossistema financia:
Fábricas de semicondutores, centros de dados e redes de energia;
Emprego altamente qualificado (engenheiros, investigadores, analistas de dados);
O desenvolvimento de novos modelos de IA, algoritmos e ferramentas de produtividade;
A criação de produtos que já estão a transformar o mundo empresarial.
Em suma, há investimento real, criação de ativos e crescimento tangível de produtividade.
Ao contrário do que aconteceu na bolha das dot-com, em que muitas empresas não tinham receitas nem produtos e mesmo assim estavam avaliadas a níveis estratosféricos, atualmente o cenário é completamente diferente.
A Inteligência Artificial já está a ser monetizada:
A Microsoft cobra por ferramentas como o Copilot, integradas no Office e no GitHub;
A Nvidia tem uma procura recorde pelos seus chips, com crescimento anual superior a 200%;
A OpenAI gera milhares de milhões em receitas através das subscrições do ChatGPT e das suas integrações empresariais;
A Adobe, Google, Amazon e tantas outras estão a transformar produtos antigos com funcionalidades baseadas em IA.
Estamos perante ganhos reais de eficiência, redução de custos e criação de novas fontes de receita.
Não é especulação, é rentabilidade.
É verdade que os múltiplos associados às avaliações dessas empresas são elevados, mas é igualmente verdade que os lucros também o são.
A Nvidia, por exemplo:
Tem margens brutas que rondam os 70%;
Gera dezenas de milhares de milhões de dólares em free cash flow;
E lidera um mercado em crescimento explosivo: o mercado de chips especializados em IA.
A Microsoft está a capitalizar diretamente a sua parceria com a OpenAI, incorporando a IA em praticamente todos os seus produtos.
A AMD e a Intel competem ferozmente pelo mesmo mercado, criando inovação e pressão nos preços.
Estas empresas não estão a “brincar aos investimentos”, estão a reinventar a forma como o mundo produz, comunica e decide.
Há gráficos a circular nas redes sociais que mostram que estas empresas estão interligadas: umas fornecem chips, outras infraestrutura, outras software, outras capital… mas isso não é um sinal de fragilidade, é um sinal de ecossistema forte.
A mesma interdependência existia:
Na revolução dos PCs (Microsoft, Intel, IBM);
E na dos smartphones (Apple, Qualcomm, TSMC).
As cadeias de valor complexas são a norma em qualquer revolução tecnológica. Cada empresa especializa-se numa parte do processo e todas prosperam quando a tecnologia avança.
As grandes disrupções da história (eletricidade, internet, cloud) seguiram sempre o mesmo padrão:
Uma fase inicial de investimento fortíssimo em infraestrutura e investigação;
Uma fase de monetização e adoção massiva;
E uma fase de consolidação e maturidade.
A Inteligência Artificial encontra-se entre as fases 1 e 2.
Os investimentos atuais não são excessos especulativos: são as fundações da próxima década.
Tudo o que virá a seguir (automação empresarial, veículos autónomos, diagnóstico médico em tempo real, descoberta de novos fármacos) depende das “apostas” e dos investimentos que estão a ser efetuados agora.
Na bolha das dot-com, o valor das empresas crescia com base em narrativas e promessas vagas.
Hoje, cresce com base em fluxos de caixa reais e ganhos de produtividade bem visíveis.
Não é uma “troca de dinheiro entre gigantes”, é a maior revolução de eficiência da história recente.
O capital que circula dentro deste ecossistema está a criar infraestruturas, produtos e conhecimento que vão sustentar toda uma nova economia digital.
Na minha opinião, não estamos a assistir a uma bolha da Inteligência Artificial, estamos a assistir ao nascimento de uma nova era industrial, movida por dados e energia computacional.
A frase “Eu dou 500 euros ao Zé, o Zé dá 500 euros ao Rui, o Rui dá-me 500 euros a mim…” simplifica em demasia algo que é infinitamente mais complexo e transformador.
A Inteligência Artificial não é uma troca de molhos de notas de umas mãos para as outras, é a eletricidade do século XXI.
E quem a subestimar, corre o risco de ficar às escuras!
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